Por Antonio Tozzi (*) Primeiro ele xingou um chefe de estado americano Mas não me importei com isso Eu não sou americano Em seguida fechou uma estação de TV em Caracas Mas não me importei com isso Eu também não sou venezuelano Depois ameaçou mandar tropas para sufocar os de Santa Cruz de la Sierra Mas não me importei com isso Porque eu não sou boliviano Depois criticou o Congresso brasileiro Mas não sou político Também não me importei Daqui a pouco ele vai querer invadir o Brasil Mas aí pode ser tarde.
Como eu não me importei com nada Quem vai se importar comigo e os demais brasileiros.
Na adaptação do texto de Vladimir Maiakowski, podemos ter uma antevisão do que pode vir a ocorrer, se o tal de Hugo Chávez não for contido a tempo.
O homem é megalômano e tem, sim, pendores ditatoriais.
Esse negócio de ter ampla maioria da população é o chamado engana-trouxa.
Ele está usando indiscriminadamente o único bem que a Venezuela produz – o petróleo – para pavimentar seu caminho em direção a uma liderança sul-americana.
Liderança que, aliás, poucos desejam.
O sujeito não respeita opinião contrária e se defende atacando os adversários.
O homem é um sujeito que detesta ser contrariado, bem no estilo do militar durão que pune os subordinados com castigos duros se for contestado.
Outra coisa.
Seus partidários falam bastante sobre o golpe que ele diz ter sido vítima em 2002.
Tanto que justificam sua atitude de não ter renovado a concessão para a RCTV, sob a alegação de que a emissora apoiou os golpistas e, portanto, merece a punição.
No entanto, convenientemente, se esquecem de citar a tentativa frustrada do golpe de estado de 4 de fevereiro de 1992 quando o então tenente-coronel comandou 300 soldados para tirar do poder o presidente Carlos Andrés Perez, do partido Acción Democrática, que havia sido eleito denmocraticamente.
Foi detido e preso, tendo cumprido dois anos de pena.
Anistiado pelo sucessor de Perez, Rafael Caldera, abandonou a vida militar para se dedicar à vida política.
Pode ter abandonado a carreira militar, mas continua fiel aos métodos utilizados na caserna.
Ele não tem amigos, tem bajuladores.
E não suporta ser criticado.
Depois das diatribes contra o presidente dos EUA, George W.
Bush, a quem chamou de demônio, desafiou Alan Garcia, presidente eleito do Peru, que teve a ousadia de derrotar, nas urnas, o candidato apoiado por ele – Humala Ollanta.
Ao saber que os bolivianos de Santa Cruz de la Sierra querem proclamar a independência, ameaçou enviar tropas venezuelanas para combater ao lado das forças armadas leais a Evo Morales, atual presidente da Bolívia, eleito com seu apoio logístico.
E, juntamente com Fidel Castro, lançou uma campanha contra o biocombustível – área na qual o Brasil desponta como líder mundial.
Claro que ele teme perder sua principal fonte de receitas, materializada na comercialização do petróleo.
Ele pouco se importa se Lula gostou ou não.
O que importa para Chávez é ele mesmo.
E seus sonhos de conquista, apoiados num discurso mambembe que mescla populismo, socialismo e nacionalismo.
Evidentemente, só para discurso interno, porque ele não abre mão do faturamento obtido pelas subsidiárias da Citgo nos EUA, seu inimigo predileto.
Ou seja, ele se dá ao direito de se imiscuir nos assuntos internos dos outros países, mas não suporta que outros critiquem seus atos, argumentando ingerência externa.
A mais recente vítima é o Congresso brasileiro que condenou sua atitude de agir contra a emissora de TV venezuelana.
Talvez os nobres parlamentares brasileiros tenham se excedido, mas Chávez não tem moral para retorquir, porque manietou o Legislativo de seu país, controla o Judiciário, que segue suas ordens e, agora, quer calar também a imprensa.
E, pior, intromete-se nos assuntos dos demais países sul-americanos, tal qual um bufão de opereta. (*) Foi redator do Jornal da Tarde e do Estado de S.
Paulo.
Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil e no canal de esportes PSN.
Atualmente é editor da revista LatinTrade e do Jornal AcheiUSA.