Por Renato Lima Como observador desta polêmica sobre a instalação de um parque em Boa Viagem, morando na Boa Vista e não diretamente afetado pelo que vier a ser construído lá, estranho a postura do prefeito nesta discussão.

Muitas de suas marcas de gestão caem por terra com essa postura.

Se não, vejamos: a idéia de orçamento participativo, a capacidade de diálogo, e aquele slogan “A grande obra é cuidar das pessoas”.

Agora descobrimos que o verdadeiro é “A grande obra é a de Niemeyer” – se as pessoas estão contra, pior para elas.

Desde o primeiro momento ele revelou uma intransigência incomum com o restante de sua administração.

A escolha do nome é um exemplo.

Se o PT adora fazer audiências públicas para preceder decisões coletivas, essa aí não era necessária – acreditou o prefeito.

Impôs o nome Dona Lindu como uma suposta homenagem simbólica a todas as retirantes.

Tendo Dona Lindu nenhuma relação com Recife, muitos viram na opção uma bajulação ao correligionário e presidente Lula.

Se o nome tivesse surgido de um consenso, fruto de articulação de várias pessoas e entidades, seria conhecido sempre como uma justa homenagem a Dona Lindu e Lula.

Da forma como saiu, será sempre lembrado como “o nome que o então prefeito deu para agradar o presidente Lula”.

Para o projeto do parque, preferiu ele próprio decidir que o melhor seria chamar o escritório de Niemeyer.

Ainda se discute se o projeto veio do jeito que veio por um erro de encomenda (não se especificou direito) ou se os assessores de Niemeyer quiseram impor muito concreto mesmo.

O fato é que o resultado desagradou milhares de recifenses, não só os diretamente afetados.

E, com razão e abdicando de seus tempos livres, se mobilizaram em prol do que acreditam ser melhor para a cidade.

O principal pedido é em relação a quantidade de área verde no projeto.

Num momento em que todos discutem aquecimento global, nada mais óbvio do que isso. Óbvio, mais vai contra o projeto que o prefeito quer erguer, pois isso chamou esse grupo de “elite intransigente”.

Claramente rompendo o traço de um político carismático e com grande capacidade de diálogo que marca João Paulo.

A idéia de orçamento participativo nesta gestão também fica abalada.

Ou será que ela só serve para escolher qual buraco tapar e não uma grande intervenção urbanística?

Se o lema era “a comunidade escolhe e a prefeitura faz”, o que acontece quando a comunidade escolhe não fazer?

Ignorá-la?

A verdade é que a prefeitura não quis dialogar sobre o nome e o projeto do parque.

Foi forçado a isso pela mobilização dos afetados.

E fez alterações cosméticas no projeto principal, sem, contudo, alterar seu escopo.

A construção de um parque em Boa Viagem está desconstruíndo a imagem de um prefeito em todo o Recife.