Os patronos por Sérgio Montenegro Filho “Diz me com quem andas e te direi quem és”.
O ditado é antigo, sim, mas serve bem para definir a atual composição do Congresso Nacional.
Ou pelo menos os 54,7% dos congressistas que tiveram suas campanhas financiadas por empreiteiras em 2006.
Foi o que revelou levantamento feito pelo jornal Folha de S.
Paulo, na semana passada, nos arquivos da Justiça Eleitoral.
De acordo com esse estudo, o setor da construção civil - bem representado pelas empresas mais graúdas, cujos nomes são conhecidos também no meio político - desembolsou, oficialmente, R$ 27 milhões durante o período eleitoral do ano passado para bancar a eleição ou reeleição de deputados e senadores.
Entre os nomes financiados, gente escolhida certamente pela influência que exerce em plenário e nas comissões das duas casas.
Na lista, há nomes como o do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e, claro, o do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), às voltas com problemas para explicar esse envolvimento com empreiteiros e lobistas.
Outros expoentes políticos saltam aos olhos no levantamento da FSP, como o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), o ex-ministro e agora deputado federal Antonio Palocci (PT-SP), o ex-presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PT-SP) e o próprio presidente nacional petista, deputado Ricardo Berzoini (SP).
O PT, aliás, saiu-se bem em termos de arrecadação no setor da construção civil.
Seus parlamentares, juntos, receberam R$ 4,6 milhões, contra R$ 4,5 milhões doados aos integrantes da bancada do PMDB e R$ 4,3 milhões destinados aos congressistas do PSDB.
No total, dos 513 deputados federais eleitos em 2006, 285 receberam doações de empreiteiras para as campanhas.
Já no Senado, 40 dos 81 integrantes foram bancados pelas construtoras, levando em conta também os eleitos em 2002, cujos mandatos de oito anos vão até 2010.
Tem uma história ainda mais curiosa: levando em consideração a composição da Comissão Mista de Orçamento - aquela que analisa quais as verbas serão liberadas, para que setores, e que emendas podem ou não remanejá-las - o índice de doações de campanha cresce.
As empreiteiras financiaram pelo menos dois terços dos 42 integrantes do grupo.
Este é, sem dúvida, mais um motivo para embasar a Proposta de Emenda Constitucional apresentada pelos senadores Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Aloízio Mercadante (PT-SP), propondo a extinção da comissão, que já protagonizou vários escândalos de corrupção.
Dito tudo isso, voltemos ao ditado popular lá do início da coluna: Embora sejam doações legais, registradas na Justiça Eleitoral, há como um parlamentar manter algum resquício de independência depois de ter recebido contribuições financeiras de uma empresa cujo principal interesse é garantir para si obras no setor público?
Por mais que se tente não vislumbrar indícios de lóbi, é impossível não imaginar o tipo de relação - duvidosa, para dizer o mínimo - mantida entre esses congressistas e os empreiteiros-patronos.
E por mais que se tente pensar positivo, os sucessivos escândalos, como este que ora é protagonizado pelo presidente do Senado, só nos mostram o contrário.