Da Folha de São Paulo Há uma semana, na madrugada do dia 27 de maio, os vôos rumo à Europa pelo Atlântico ficaram sem controle de tráfego aéreo, de acordo com registro do livro de ocorrências do centro.

O Cindacta-3 (Recife), responsável por parte do trajeto, teve falhas nas freqüências de rádio, única ferramenta para orientar os pilotos na travessia.

O caso já virou foco de uma sindicância interna no centro.

O livro de ocorrências é o documento oficial interno da situação operacional.

A falha deixou 30 aviões sem contato.

Uma das conseqüências registradas: um piloto da TAM precisou desviar, sem auxílio do controle aéreo, por causa de problemas meteorológicos e ficou em rota de colisão com outro vôo da mesma empresa.

A Aeronáutica foi procurada durante a última semana para explicar o ocorrido.

Em conseqüência disso, foi aberta uma sindicância para investigar o vazamento à imprensa.

A denúncia foi recebida por meio do procurador do Trabalho Fábio Fernandes, que investiga a situação da categoria.

Controladores e seus chefes travam uma batalha com relação aos vazamentos para a imprensa sobre a situação.

Oficiais têm garantido em depoimentos nas CPIs do Congresso que não existem falhas, apenas “características”.

Os controladores, que não podem falar publicamente porque são militares, enviam documentos à imprensa para rebater.

Na semana passada, a Folha revelou que no Cindacta-4 (Manaus) os profissionais fazem o controle sem uso do radar porque há muita duplicação de alvos e informações incorretas sobre os vôos -isso suscitou a emissão de uma norma operacional da FAB.

Na sexta, a ABCTA (Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo) emitiu um “boletim de segurança” orientado os associados a não realizar vigilância radar se houver falhas e até a encerrar totalmente o controle aéreo se não houver freqüências funcionando ou autorizadas para determinado setor.

A assessoria de imprensa da FAB confirmou a autenticidade da cópia do documento enviado à Folha, mas nega o conteúdo -insinua o que trecho foi forjado.

Uma vistoria chegou a ser realizada para averiguar as freqüências, mas a FAB se negou a divulgar o relatório.

Nos oceanos, o controle é “padrão”, ou seja, é feito sem o auxílio de radares.

Por isso, a falha de rádio, segundo os controladores, causou a falta de controle aéreo.

Segundo o livro de ocorrências, o centro “ficou impossibilitado de prover o serviço de controle de tráfego aéreo, deixando as acft [AERONAVES]em risco potencial, comprometendo a segurança”.

Isto porque os pilotos fizeram desvios, a exemplo do vôo TAM 8084 (São Paulo a Londres), que precisou evitar uma formação meteorológica e ficou em rumo convergente com o TAM 8054 (Rio de Janeiro a Paris).

O segundo avião teve sua altitude alterada pelos controladores para evitar um incidente.

Segundo o documento, 30 vôos ficaram “sem contato”. “Já pedimos para melhorarem essas freqüências e nada fizeram (…) Estamos pedindo socorro, pois assim não dá para controlar”, diz o manifesto.