Da Editoria de Cidades do JC A campanha publicitária lançada domingo (27) pela Prefeitura do Recife, em defesa do projeto criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para o Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, Zona Sul, aumenta mais ainda a polêmica em torno do assunto.
No anúncio publicado em jornais, o cantor Alceu Valença aparece ao lado de uma versão atualizada do primeiro projeto do parque, divulgado dia 12 de março último.
Mas não é, ainda, a proposta definitiva.
O arquiteto está finalizando o novo desenho, que trará 60% de área verde.
Em nota oficial, a prefeitura informa que o objetivo da campanha é esclarecer a população sobre mais uma ação do município.
Também diz o valor que está sendo investido: R$ 1 milhão, incluindo criação, produção e veiculação, além do cachê de Alceu Valença, no valor de R$ 100 mil.
Contempla peças em rádio, TV e anúncios em jornais.
O jingle tem música de Zé da Flauta, com letra de Alceu Valença, Theo e Zé da Flauta. “Esperávamos que a prefeitura deflagrasse a campanha quando o escritório de Niemeyer apresentasse a nova proposta do parque.
Nos deparamos com uma campanha sobre um projeto que não conhecemos”, afirma o presidente da Associação Amigos do Parque, Petrônio Martins. “Se a imagem da peça publicitária não corresponde ao desenho definitivo, a prefeitura está gastando dinheiro público à toa.” O promotor de Meio Ambiente do MPPE, Geraldo Margela Correia, vai encaminhar o assunto à Promotoria de Patrimônio Público. “Vamos analisar o conteúdo para saber como proceder”, diz.
De acordo com Geraldo Margela, a prefeitura não poderia lançar a campanha, porque há uma ação popular contra o município, para tentar impedir a construção do centro cultural nos terrenos de Boa Viagem.
A ação foi movida semana passada.
Vitória Andrade, presidente da seccional pernambucana do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE), disse que a entidade estranha o início da campanha antes da aprovação do projeto pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU). “Como a prefeitura pode fazer propaganda de algo que ainda não foi aprovado?
Nesse momento caberia um plebiscito, para saber se as pessoas querem ou não o centro cultural em Boa Viagem”, diz.
Para a arquiteta Vera Milet, professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e técnica do Ceci, centro que trabalha com conservação e restauração do patrimônio histórico, a campanha não é esclarecedora. “O município está gastando dinheiro público sem explicar o conflito que se estabeleceu na cidade.
O governo quer um centro cultural e as pessoas defendem uma área verde.” O coordenador do núcleo local da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas e professor da UFPE, Luiz Vieira, observa que a área verde do parque ocupa o trecho menos privilegiado dos terrenos. “A vegetação fica no poente, atrás do teatro e da sala de exposições.
Os prédios funcionarão como um barreira para o vento e não tornam o lugar convidativo”, observa.
Ele destaca a beleza da praia de Boa Viagem e acrescenta que teatro e centro de convenções não precisam de paisagem. “São edificações que podem ser construídas em qualquer lugar.
Um parque ecológico à beira-mar seria mais proveitoso.”