Por Isaltino Bezerra Exatamente há 86 anos, o grande jurista brasileiro Rui Barbosa, em seu Discurso aos Moços (escrito em março de 1921) dizia: “De tanto ver triunfar a nulidade; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça.

De tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Nos dias que correm, temos assistido a um espetáculo vergonhoso da ciranda política brasileira, que teima em jogar ao pó valores que outrora eram inegociáveis.

São tempos difíceis, quando a ética cambaleante reflete os princípios morais que governam as relações entre os indivíduos.

Os maus exemplos, escancarados diariamente pelos corredores dos Poderes da República, das instituições e das empresas estão sendo impunemente legitimados em nossa sociedade.

As crises do mensalão e dos sanguessugas, as operações bem-sucedidas realizadas pela Polícia Federal (exemplo da “hurricane” e a recente “navalha”, atestam uma evidente e espantosa afronta à lei, à moral e aos princípios éticos.

Poder-se-ia dizer que são uma conseqüência do nepotismo, do clientelismo e do paternalismo que sempre estiveram presentes na história deste país.

Só que agora a corrupção se tornou endêmica, com incidência significativa nos mais variados escalões do Poder.

A sensação que têm os brasileiros de bom caráter - que felizmente ainda os temos, na grande maioria - é de que tudo isso que está ocorrendo e que ocupa as páginas dos jornais e revistas, aumentando a nossa cotação nos relatórios da ONU como um dos países mais corruptos do mundo, é de que tudo fica por isso mesmo…

Não temos tido notícia de qualquer pena aplicada pelo Judiciário aos autores (e atores, também, porque são todos uns artistas) dessas façanhas de avanço no dinheiro público.

E olhe que os processos encaminhados à Justiça, com substanciais provas dos crimes cometidos, já completaram alguns aniversários, e nada…

Sempre aparecem nuvens de fumaça para acobertar os malfeitos, principalmente dos políticos.

Essa mais recente agressão aos bons costumes é o triste episódio das licitações públicas, envolvendo influentes figuras do Poder (de ministro a governadores, passando por funcionários de primeiro, segundo e terceiro escalões. É mais um lamentável capítulo na história da corrupção deste país, com base no tráfico de influência e na quebra dos princípios éticos e morais.

Pratica-se a céu aberto um verdadeiro assalto às verbas públicas, operação que até então já contabilizava resultados fantásticos aos donos de uma construtora, e enchia os bolsos de políticos influentes, numa vergonhosa fraude de licitações de obras federais, estaduais e municipais.

Pois é, Rui Barbosa tinha razão.

A gente fica desanimado da virtude e com vergonha de ser honesto diante dessas sucessivas demonstrações quebras de padrões de dignidade e de moral.