O professor Ricardo Luiz Ferreira de Araújo, afastado da diretoria da escola estadual Dom Vital, em Casa Amarela, depois de entrevista que concedeu à imprensa, há duas semanas, reclamando da falta de professores em oito disciplinas, diz que agora vai ao “campo jurídico” para assegurar seus direitos.
Na entrevista que o blog publica com exclusividade, ele rememora o episódio do seu afastamento e diz que foi muito “puro e ingênuo” ao tentar contornar o problema com a Secretaria de Educação através do diálogo.
Araújo, que responde a dois inquéritos administrativos abertos pela atual gestão da Secretaria, diz que está sendo transferido para outra escola para trabalhar como docente.
Blog de Jamildo - Como o senhor justifica a acusação da Secretaria de Educação de que havia, na Dom Vital, um professor de educação física que não comparecia desde 2001?
Ricardo Ferreira de Araújo - Cheguei na escola em julho de 2000 e identifiquei que esse professor, chamado Cristóvão, não dava aula.
Mas em agosto, fizemos uma reforma e nos espalhamos provisoriamente em cinco escolas, não funcionávamos na nossa estrutura.
Assim que retornamos, a primeira providência foi afastar o Cristóvão, daí nunca mais vi esse homem.
Ele foi removido.
Nós temos documentos que comprovam isso.
Blog - Se você tem documentos que comprovam sua inocência, de quem foi o erro, então?
Araújo - Ele foi devolvido à GRE (Gerência Regional de Ensino).
A secretaria e a GRE já estão com esse documento em mãos.
Quando eu soube que tinha sido afastado, no último dia 14, fui falar com Paulo Dutra (diretor da GRE).
Até então não tinha tido contato com ele, pedi desculpas, dizendo que não houve intenções políticas de causar prejuízos ao governo.
Blog - A assessoria de imprensa do secretário alegou que você pediu desculpas porque reconheceu seu erro…
Araújo - De maneira nenhuma!
Pedi desculpas pela notícia, porque o Amaro, que é o chefe de Paulo Dutra, disse que aquilo ali caiu como uma bomba na Secretaria de Educação.
Ele estava com vários problemas em escolas, estaria “apagando fogo” em várias escolas.
E, de repente, veio uma matéria.
Aquilo ali caiu como uma bomba.
Blog - A intenção deles seria esconder?
Araújo - É isso que me admira, um governo que se diz socialista, democrático, tomar uma atitude dessa.
Fui com muita humildade, querendo reverter a situação porque, de fato, eu não cometi nenhum absurdo.
Estava faltando professor?
Estava.
Eu não poderia calar a boca do grêmio, dos líderes estudantis com relação ao problema.
Mas quando eu fui lá pedir desculpas, queria reverter a situação.
A minha desculpa não foi com relação a Cristóvão.
Eu fui educado e humilde.
Inclusive quando eu falei lá, no início da negociação, disseram: “Não, essa questão de Cristóvão a gente vê depois”.
Por que a gente vê depois, se é um caso grave?
Eu soube que depois ele (Cristóvão) apareceu, falou com Paulo e com Amaro.
Blog - E ele foi punido?
Araújo - Que eu saiba, até agora, no Diário Oficial, não saiu.
Ouvi dizer que ele ia ser exonerado.
Mas até agora não estou sabendo.
O grande questionamento é esse.
Será que esse professor tinha alguma proteção?
Será que estava sendo apoiado por alguém?
Se ele passou esse tempo todinho em casa, que ele diz que estava em casa, esperando que alguém chamasse ele, ele estava assim por quê?
Alguém comunicou a ele que ele deveria ser localizado em outra escola?
Eu é que não poderia, como gestor, ficar atrás de professor.
Não é minha função.
Quem tem que fazer isso é a GRE.
Eu tenho documentos que comprovam, já estão, inclusive, nas mãos de Paulo e de Amaro, que ele foi devolvido.
Blog - O senhor foi eleito e reeleito pela comunidade escolar.
Que autoridade o governo tem para afastá-lo do cargo?
Araújo - Aí é que é o grande problema. É aí que eu digo que vamos para o campo jurídico.
Fui muito puro, muito ingênuo, mas agora a gente vai ter que mostrar os decretos do governo anterior, o estatuto da eleição de gestor, se feriram os princípios desse estatuto, feriram a Constituição.
Porque, se você observa no Diário Oficial, primeiro eu fui afastado, depois formaram uma comissão de inquérito.
Mas primeiro teriam que me ouvir, para depois me afastar, então há muitas falhas jurídicas nos atos.
A gente vai ter que colocar isso no campo jurídico mesmo.
Agora, eu tentei reverter o quadro através da conversa, mostrando a minha seriedade, a minha inocência.
Até a parte jurídica da Secretaria de Educação disse que tinha boas informações com relação ao meu trabalho.
E isso vai me ajudar.
São sete anos de muita luta, muito desgaste, com muita seriedade.
Blog - E a comunidade?
Os estudantes?
Como todos reagiram?
Araújo - Houve uma reação muito forte dos estudantes, uma solidariedade muito grande.
Algumas pessoas chorando, alunos revoltados, querendo resolver a situação.
A comunidade está querendo o nosso retorno.
Até porque a gente transita muito bem na comunidade, tem uma boa relação com o aluno, com o corpo docente, temos um bom trabalho realizado na escola.
Duas eleições nós ganhamos com mais de 90% dos votos.
Então está aí a situação, espero que o governo se toque com relação a isso.
Está sendo feito um abaixo-assinado, já tem mais de 1.200 assinaturas.
E vamos ver se a gente reverte essa situação.
Inclusive, os alunos estavam se mobilizando para fazer uma grande manifestação na sexta-feira passada.
Falei com Amaro e ele pediu para que eu fosse na escola para evitar a manifestação.
Eu fui, conversei, porque a minha situação poderia piorar.
Blog - Por que o senhor acha que ia piorar?
Araújo - Porque no momento eu estava em conversação, havia esperança de reverter.
Agora, que já houve uma conversação e não houve um resultado concreto, vamos partir para o campo jurídico.
Blog - Por que eles agiram assim?
O senhor atribui a quê?
Araújo - Eu entendo que queriam preservar a auto-imagem do governo e não queriam aceitar nenhuma denúncia.
Blog - Mas preservar a auto-imagem ofendendo outra pessoa?
Araújo - É aí que a gente estranha, esse comportamento do governo.
Primeiro teriam que ouvir, para depois tomar uma decisão.
Mas foi feito um afastamento, sem ouvir, e depois foi formada uma comissão de inquérito.
Agora já estão me posicionando para outra escola.
Como docente.
Blog - Mas se o senhor realmente tivesse infringido uma lei, poderia voltar para a sala de aula?
Não há aí uma contradição?
Araújo - Claro que existe contradição.
Quando falei com pessoas da área de direito, disseram que eu fui ingênuo. É uma coisa absurda.
Blog - O senhor teme algum tipo de represália?
Araújo - Não, não temo represálias porque quando a gente anda certo, a gente pode encarar as pessoas olho no olho.
Mesmo que a gente morra, mas é bonito morrer defendendo a verdade.
Horrível é morrer quando a gente está errado.
Quando você está certo, você não tem o que temer.