*Por Ruskin Freitas Através das imagens publicadas até agora para o Projeto do Parque Dona Lindu, a ser construído no bairro de Boa Viagem, no Recife, percebemos claramente a desproporção entre área verde e área pavimentada.
Só pelos materiais, podemos prever que haverá um aquecimento na área, uma vez que a impermeabilização do solo contribui para o aumento da temperatura do ambiente, devido ao baixo calor específico dos materiais rígidos, assim como pelo desempenho de vários outros índices térmicos, tais como coeficientes de absorção e de reflexão bem diferentes entre o concreto e a vegetação.
A área de lazer pública e natural parece estar minimizada e confinada a espaços delimitados, situados a sotavento, ou seja, numa posição contrária aos ventos predominantes e na \sombra\ das construções.
A sombra, aqui, refere-se não ao contrário da insolação e sim ao contrário da ventilação.
A sombra e o vento são os dois princípios básicos a serem perseguidos em qualquer projeto voltado para localidade situada em clima tropical litorâneo quente e úmido como o do Recife, para proporcionar conforto aos usuários.
O verde, tão importante para a qualificação ambiental do espaço público, aparece predominantemente como espaço de composição estética ou como espaço que sobra.
Um dos principais argumentos que a mídia coloca é que esse parque amenizaria o desconforto no bairro de Boa Viagem, pressionado pela densidade construtiva bem superior à densidade de vegetação e aos efeitos que isso provoca, entre outros, originando microclimas urbanos não favoráveis.
No entanto, só o fato de a área verde estar concentrada em um só local e não distribuída por várias outras áreas do bairro, já é em si uma demonstração de que o problema não se resolverá.
A área densa continuará densa e sem vegetação e com temperaturas mais elevadas que a média da cidade e, sobretudo, maior do que aquela verificada na orla, conforme pesquisas realizadas no bairro já demonstraram.
A área que estava com solo natural, arborizada e sombreada perderá um pouco mais dessas qualidades, seguindo a tendência de todo o bairro.
Projetos dessa relevância mereceriam maior discussão com a população usuária e com especialistas que mediassem os diversos interesses da sociedade e que ponderassem sobre os diversos princípios da arquitetura e urbanismo, que combinariam estética, funcionalidade e técnica, sem jamais privilegiar, em demasia, um desses pilares. *Ruskin Freitas é professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE e diretor técnico da RD Metropolitana da Agência Condepe Fidem.