Da Editoria de Cidades do JC Um dia após ser tomado pelo sentimento de revolta e desejar a morte dos dois adolescentes responsáveis pelo assassinato de sua mulher, o executivo Acrísio Coutinho, 53 anos, reconheceu que a violência não é o melhor meio para combater a criminalidade.
Durante o velório da professora Altina Margarida Marinho Coutinho, 56, na manhã de ontem, ele revelou que vai implantar um centro social e uma escola para jovens de comunidades carentes de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, onde ocorreu o crime, na manhã da última segunda-feira.
Emocionado, afirmou que, agora, o pensamento da família é um só: “A gente quer paz.
A gente quer vida.” O sepultamento, ocorrido no Cemitério Parque das Flores, no Sancho, Zona Oeste da capital, se transformou em um ato pela paz.
Vestidos de branco, amigos e familiares fizeram uma caminhada carregando peças de isopor com as letras da palavra “paz” e estouraram bolas, numa referência às vidas perdidas por causa da violência urbana.
Segundo Acrísio Coutinho, a instituição terá o nome Tina pela Vida, lembrando o apelido da vítima, e valorizará as questões relacionadas à cidadania.
A idéia do executivo, sustentada em ações educativas em vez de apenas reforço policial, ecoou como um clamor por justiça, em meio à dor dos familiares.
A funcionária administrativa da FBV morreu durante tentativa de assalto na Rua Nélson Hungria.
Voltava do supermercado quando levou um tiro no peito.
A arma foi disparada por um adolescente de 16 anos, apreendido logo depois.
A irmã da vítima, Eva Maria Marinho, 53, também defendeu o plano de levar cidadania aos jovens carentes. “As pessoas boas estão indo e as más ficando.
Essa situação tem que parar.
Não bastam só ações de segurança.
A sociedade tem que se unir e dar melhores condições para esses jovens pobres.” Amigo da família, o executivo Eduardo Chiaperini, 35, disse que a situação era revoltante. “Estamos numa guerra civil.
Isso só vai parar quando matarem filhos de políticos.
Aí, num instante, eles dão um jeito de mudar a lei.” Colega de trabalho de Altina, Cristiane Gondim, 40, comentou que vai se lembrar da amiga pela forma como ela tratava as pessoas. “Tina beijava todo mundo.
Chamava você de querida, de benzinho, de fofinha.
Ela era um amor.
Vai ser difícil suportar essa perda.” No velório, os três filhos de Altina não saíram do lado do caixão.
Hermano, 27, o mais velho, teve uma crise de choro e caiu de joelhos, sendo amparado por familiares.
Priscila, 23, e Leonardo, 21, não conseguiam parar de chorar.
O marido estava inconsolável.
Colegas de trabalho chegaram em dois ônibus para dar adeus a Altina.
Cem pessoas acompanharam a missa de corpo presente.
Ari Avelar, da direção da FBV, leu discurso, ressaltando o medo diante da sensação de insegurança e se manifestando a favor da redução da maioridade penal. “Basta de tanto medo.
No trânsito há sempre a iminência da tragédia, diante da impunidade.
Viva em Paz, Tina”, dizia a carta.