Depois de um encontro com o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, amigo pessoal do governador Eduardo Campos e pernambucano também, o Governo do Estado anunciou que o BNDES vai fazer a atualização do valor da Compesa.

O governo limitou-se a informar que a iniciativa tem como objetivo contribuir para o processo que visa resolver o impasse entre o Governo de Pernambuco e a Caixa Econômica Federal, em torno de 30% das ações da estatal pernambucana, negociadas com o banco federal em 1999. Ótimo!

Quem pode ser contra?

Ninguém.

Afinal, vai-se destravar os financiamentos para a estatal de águas e abastecimento.

O que é mantido em segredo é a estratégia para isto.

Qual a finalidade de uma revisão do valor das ações?

No meio empresarial, geralmente se faz isto quando se deseja um novo sócio.

Ou um novo dono.

Como a Caixa já disse que não quer, nem pode ser parceira, porque, deste jeito, o banco não pode financiar a própria Compesa.

O jeito encontrado vai ser repassar as ações para o BNDES, mais precisamente para o BNDESpar, a empresa de participações do BNDES.

Quem acompanha o Jornal do Commercio não vai surpreender-se com a solução.

Em 28 de dezembro de 2005, informei sobre a mesma alternativa, conforme a reprodução da coluna JC Negócios, de Fernando Castilho, comprova.

Esculhambada pelos socialistas na época da eleição passada, a Compesa, hoje, tem um faturamento de R$ 530 milhões e deu um lucro de R$ 25 milhões, mesmo não operando a pleno vapor.

A nova revisão, assim, tem como objetivo mostrar que as ações da empresa não são um mico.

A Compesa pode ter um futuro pela frente, se bem gerida.

A ironia política é clara e pode ajudar a explicar a economia de explicações do governo do Estado.

Os novos gestores deram diversas declarações afirmando que a operação da venda das ações foi um erro e que elas causaram prejuízo ao Estado.

Agora, a solução pode ser apenas repassar as mesmas ações, da Caixa para o BNDES.

Inicialmente, falou-se até que a solução poderia ser o alongamento da dívida, com o aval do Tesouro Nacional.

Era um tiro no pé, uma vez que até a Procuradoria Geral do Estado tinha produzido um parecer mantendo a posição de que vendeu ações e um contrato juridicamente perfeito não poderia ser rasgado unilateralmente pela Caixa.

No Rio de Janeiro Na reunião, Eduardo apresentou a Coutinho um relato circunstanciado do impasse e lembrou que a população de Pernambuco vem sendo extremamente prejudicada por causa de um desacordo entre o Estado e a CEF. “Há vários anos Pernambuco está sendo impedido de contratar operações de crédito com a Caixa para realizar obras inadiáveis nas áreas de habitação, saneamento e abastecimento d’água.

Encontrar uma solução para esse problema é prioridade absoluta para nós”, disse o governador.

Eduardo entregou ao presidente do BNDES um documento no qual rememora todos os fatos relacionados com o processo, da assinatura de contrato de compra de venda de ações, em setembro de 1999, ao impasse que se estabeleceu quando a instituição federal ingressou na Justiça para não concretizar a aquisição das ações.

O BNDES, na época agente do Programa Nacional de Desestatização, coordenou o trabalho de um consórcio de consultores contratado para determinar o preço mínimo para a privatização da Compesa.

A primeira avaliação do BNDES foi feita em um relatório datado de 24 de setembro de 2001, que o governo de Pernambuco pediu para ser revisto e atualizado. “A atualização mostra-se recomendável, especialmente em razão das modificações ocorridas na economia nacional, bem como na própria Companhia”, diz a carta entregue a Luciano Coutinho.

Pode até ter troco?

O presidente do BNDES disse a Eduardo que a instituição tem “total interesse” em contribuir para a busca de uma solução para o problema envolvendo as ações da Compesa.

A Caixa recebe seus R$ 300 milhões e Eduardo pode até ficar com algum troco, uma vez que as ações podem estar valendo muito mais do que em 2001.

Nesta linha de raciocínio, no meu entender, o secretário de Recursos Hídricos, João Bosco de Almeida, acrescentou hoje que, já na primeira avaliação da Compesa, os valores giraram aproximadamente entre R$ 230 milhões e 420 milhões.

Ficou acertado que o BNDES vai enviar uma equipe em 15 dias ao Recife para reexaminar os estudos que já foram realizados pelo próprio BNDES.

O processo pode durar no máximo 60 dias.