Por Roberto Magalhães Na atual conjuntura política, é inegável que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem sabido oferecer muito de sua experiência de político e acadêmico, ora ao seu partido, o PSDB, ora ao conjunto de forças que fazem oposição ao governo federal.

Em recente artigo de jornal, intitulado “Um Brasil Melhor”, ele adverte: “Quem parte dividido para as batalhas amplia as chances de derrota. É necessário, pois, consolidar as alianças internas e entre os partidos”.

Lembra ainda o ex-presidente que, sem definições simples, abrangentes e claras sobre o que os partidos querem, as discussões serão sempre sobre quem e não sobre as metas e objetivos.

Para ele, a fulanização do debate antes da hora só dará margem à ação destruidora da intriga, dos próximos e dos adversários.

O conselho é muito bom, no que diz respeito à união das forças oposicionistas no plano federal.

Mas, no tocante à fulanização, esta sempre existirá, ainda que seja um caminho para o divisionismo.

Fernando Henrique propõe alguns temas, como o de “projetar um futuro que não seja de esmolas para os pobres disfarçadas em bolsas”, o combate ao clientelismo renascente, desenvolvimento sem destruição da natureza, a busca de inserção no mundo globalizado, concluindo que, em síntese, devemos ser contemporâneos do Século XXI.

Teríamos considerações a acrescentar.

Em realidade, todos os dias os jornais e telejornais anunciam números auspiciosos da política financeira e monetária, mas não contemplam dados da nossa economia, como os baixos níveis de crescimento; os juros elevados, penalizando os empreendedores; o câmbio apreciado que desestimula os exportadores; o número elevado do desemprego, a educação de baixo rendimento, a infra-estrutura em péssimas condições e a carga tributária elevadíssima - que corrói os salários e reduz a demanda -, mantendo os desempregados sem expectativas.

Outro ponto negativo é o do adiamento das reformas política, tributária e previdenciária.

Evidentemente, não bastam os enunciados.

Seria necessário, a uma certa altura - como por exemplo, o transcurso do primeiro ano do mandato presidencial -, não apenas um pronunciamento de análise e críticas ao governo, mas também a formulação de uma carta de princípios ou manifesto com proposições alternativas para as políticas governamentais.

Outro aspecto que considero relevante é a politização do eleitorado brasileiro.

A ação política dos partidos não pode se circunscrever aos debates nas assembléias políticas. É necessário que chegue aos vários segmentos do corpo eleitoral.

Isso não significaria subestimar o trabalho das bancadas oposicionistas no Congresso Nacional, onde o debate, naturalmente, dá prioridade aos temas relacionados à matéria legislativa, na qual predominam as indefectíveis medidas provisórias.

Em que pese, infelizmente, a influência crescente do poder das máquinas públicas e do dinheiro nas eleições, ninguém vencerá pleito majoritário sem um discurso convincente e a conquista da confiança do eleitorado independente, aquele que não barganha o seu voto.

O mundo mudou muito nas últimas décadas, e o Brasil também.

Mas, sem crescimento econômico ao nível dos demais países em desenvolvimento, vamos continuar sem solução definitiva para os nossos principais problemas, pagando juros, gastando muito e investindo pouco em áreas estratégicas. É bom não esquecer, também, que o Brasil é considerado, por algumas agências internacionais, como seguro para se investir, mas é preciso levar em conta que o capital externo no tocante ao nosso País, em grande parte, tem finalidade especulativa.

PS: Roberto Magalhães é deputado federal pelo Democratas.