Do Jornal do Commercio O médico Ricardo Paiva, dirigente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, defendeu, nesta segunda-feira, a descriminalização da maconha. “Ela pode ser usada com fins terapêuticos, em substituição ao crack, que está induzindo os jovens da periferia ao tráfico, aos assaltos e mortes e comprometendo a vida deles”, afirmou, ao divulgar o resultado final da 3ª Caravana realizada pelo Cremepe, que visitou, este ano, 43 cidades da Zona da Mata, Agreste e Sertão, identificando problemas sociais que interferem na saúde. “Não estou fazendo apologia ao uso da droga.

O crack é mais pesado”, justifica.

Para o médico, deve-se abrir urgentemente o debate sobre a liberação da maconha, tamanho estado de violência vivido na capital e interior, segunda causa de morte da população de Pernambuco, que dizima principalmente os menores de 25 anos.

Ele explica que nos programas de redução de danos, o usuário de droga pesada é convencido a trocá-la por uma menos ofensiva até o desmame completo.

Daí a importância da descriminalização da maconha. “Esses homens e mulheres presos por vender maconha representam 70% da população carcerária e, nas detenções, fazem curso de marginal, saem especialistas em violência geral”, observou.

Quanto ao crack, Paiva conta que os traficantes oferecem a droga por um mês a crianças de 8 e 10 anos.

Depois, passam a exigir dinheiro em troca, oferecendo como ajuda um revólver, para que possam conseguir a verba.

O menino que assalta e mata nos sinais também acaba morrendo, por bala ou pelos danos causados pela droga. “O crack entrou na periferia do Recife e é realidade na Zona da Mata e Sertão”, alertou.

Ele lembra que um programa de redução de danos, associado a ações de inclusão social e desenvolvimento, seria eficaz. “É preciso promover reforma agrária na Zona da Mata, estimular a economia solidária com a criação de cooperativas no campo e na cidade, garantir assistência à saúde, educação e lazer dignos à população”, disse, observando que os “políticos estão brincando de governar.” Paiva destacou, durante a divulgação dos dados, a completa ausência do poder público em mais de um terço das cidades visitadas: “Não há como falar em plano de contenção de violência onde faltam juízes, promotores e delegados”.

Os desmandos constatados incluem áreas fundamentais, onde por lei os governos são obrigados a assegurar serviços de qualidade.

Todos os problemas são levados ao governador Eduardo Campos (PSB), à Presidência da República e à Organização das Nações Unidas.

A caravana encontrou estudantes sendo transportados como gado, em paus-de-arara, e hospitais municipais sem médicos ou com equipamentos novos, comprados pelo Ministério da Saúde há mais de cinco anos, estocados.

Detectou baixa resolutividade de hospitais estaduais e lixo hospitalar exposto, mortalidade infantil duas vezes maior que a média brasileira, suicídio por uso de agrotóxico e alcoolismo exacerbado.

O relatório pede que a composição do Tribunal de Contas seja isenta de vinculação política.