Por Eduardo Machado, no site PE Body Count de hoje A nomeação do coronel Luiz Meira para o segundo cargo mais importante da Polícia Militar segue causando polêmica.
O oficial parece não estar preocupado com a repercussão de sua promoção e garante que continua o mesmo Meira que comandou a repressão às manifestações dos estudantes contra o aumento das passagens em 2005, quando foi feita a já célebre foto em que ele aparece aplicando uma gravata no líder da União da Juventude Socialista, Ossi Ferreira.
Confira a entrevista. - O que a população pode esperar da operacionalidade da Polícia Militar sob sua orientação?
Coronel Luiz Meira – Eu até brinco e digo assim, olhando nos olhos de qualquer um da Polícia militar, essa bunda aqui passou quatro anos e meio sentado numa GE (viatura) só operando na Região Metropolitana do Recife.
Quatro anos e meio de Radiopatrulha como tenente e na rua, o tempo todo.
Na minha vida profissional já fiz dois partos na rua.
Me deparei com dois partos e eles não foram iguais.
Segurança Pública é uma coisa dinâmica.
Não existem duas ocorrências de Radiopatrulha iguais.
Você tem um banco de dados e tem que aprender a ler e raciocinar, como trabalhar… - Ao chefiar o Batalhão de Choque, o senhor ia à frente da tropa, essa postura vai continuar?
Meira - Tenha certeza que eu não mudei em nada.
Eu recebo pra trabalhar.
O cidadão pernambucano folga nos sábados e domingos. É nessa hora que eu mais vou estar trabalhando.
O meu serviço é dar segurança ao cidadão.
Espero ficar o mínimo possível no gabinete.
A minha equipe comunga do mesmo pensamento de operacionalidade.
Didivimos a Região Metropolitana em quatro e vamos trabalhar essas áreas de maneira integrada. - O que o senhor achou das críticas do Movimento Nacional de Direitos Humanos ao senhor ter assumido a DGO da PM?
Meira - Nós vivemos num país democrático. É uma democracia e todos têm seus direitos.
Pena que eles não conhecem verdadeiramente o meu trabalho.
Porque se eles forem hoje no Batalhão de Choque, eles vão ver que lá existe uma escola comunitária com todos os recursos necessários.
E sem um Real do Governo do Estado.
Tudo fruto de parcerias que nós conseguimos.
Teremos agora um grupo de escoteiros.
Serão 100 crianças que ficarão fora das ruas aprendendo a diferenciar o bem do mal, o certo do errado.
Se pegarem o esqueleto do DGO do futuro, eles verão a nossa preocupação em chegar junto da comunidade.
Vai ser criado um núcleo para trabalhar as comunidades com seriedade e não com pirotecnia. - Como vai ser o procedimento da tropa sob seu comando?
Meira -O policial vai ter um padrão de como agir.
Ele não vai ser aquele bananão, que vai para comunidade só para entregar flor, conversar, ele tem que ser policial e saber interagir com a comunidade.
Saber tratar bem, mas na hora de agir, agir com rigor.
Ele sabe que na comunidade tem um bandido, que tem ponto de droga, ele tem que resolver. - Ainda em 2005, o atual líder do Governo na Assembléia, Isaltino Nascimento, o deputado Sérgio Leite da bancada de sustentação do governador e o secretário-executivo de Direitos Humanos, Fernando Matos, marcharam com os estudantes e pediram sua cabeça ao então governador, Jarbas Vasconcelos.
Como vai ser a sua relação com essas pessoas agora, por exemplo em uma reunião de governo no palácio?
Meira - O que eu tenho a dizer é que não tenho nada contra nenhum.
Muito pelo contrário, tenho até amizade com alguns.
Com outros não tive ainda oportunidade de conversar, trocar idéias, falar de polícia, de projetos para diminuir a violência.
Ainda não tive essa oportunidade, espero ter inclusive.
Cada um faz o seu papel.
Naquela época que houve isso, eu era o comandante do Batalhão de Choque. É um papel muito difícil e graças a Deus, hoje eu posso dizer que sou o único comandante de Batalhão de Choque do Brasil que passou cinco anos à frente da tropa. É um recorde nacional.
Não estou dizendo que os outros foram ruins.
Estou dizendo que foi um trabalho de equipe.
Feito com seriedade.
Que recebe uma missão da Justiça e cumpre.
Que é chamada pelas autoridades superiores para resolver o problema.
Se não for o Choque quem vai resolver vai ser quem, o Exército?
E resolveu usando as armas não letais.
Quantos tiros de arma de fogo foram disparados pela Tropa de Choque? É a pergunta que eu faço.
Os tiros de armas de fogo que foram disparados durante todos os anos que passei no Choque?
Nenhum.
Tiro de bala de borracha?
Usamos.
Spray de pimenta?
Usamos.
Gás lacrimogêneo?
Usamos.
Mas contivemos as multidões.
Colocamos o feito à ordem.
O posicionamento da Polícia Militar foi criticado no primeiro dia da manifestação dos estudantes.
Ficamos todos parados.
Os caras quebraram, pintaram e bordaram com a gente.
Ficamos daqui de cima (do Quartel do Derby) assistindo a perturbação e a bagunça.
O Choque só veio atuar no terceiro dia. - E aí, nesse momento, o senhor acha que cometeu algum erro ou algum excesso?
Meira - Nenhum.
Nenhum excesso.
Eu não tenho nenhum processo que prove que eu cometi algum excesso.
Não existe nenhuma prova.
Existe muita pirotecnia.
Aquele elemento que levou aquela gravata e aí, antes eu até criticava o menino que fez a foto, mas hoje em dia não, eu agradeço a ele.
Não é por ter dado notoriedade à foto, mas por mostrar que existe um limite.
E respeito tem que ser cumprido.
Agora aquele elemento ali, aquele cidadão depois de perturbarem, de fecharem a Avenida Norte, de quebrarem cavalete, de atacarem policiais fardados, eu vim em socorro àquela tropa.
Vim na contramão com a minha viatura para chegar até ali.
Quando eu estava próximo ele tinha acabado de empurrar um soldado franzino que estava de costas e quase batia em um poste.
Só não bateu porque desviou.
Meu amigo, eu não tenho sangue de barata.
Se eu era o mais próximo, eu estava com 15 homens, eu não sou de estar me escondendo.
Eu era o mais próximo e simplesmente imobilizei.
Eu quero que ele vá em IML em qualquer lugar e mostre um laudo de que houve espancamento.
E isso é ser violento amigo?
Fazer cumprir a lei?
Se isso é ser violento, vou ser violento a vida toda.