A CELPE e o deboche ao Governo Eduardo Campos Por Edilson Silva Lembro-me de um debate entre os candidatos ao Governo do Estado em 2006, ocorrido na UFRPE, em que eu, enquanto candidato do meu partido, o PSOL, divergi fortemente do então candidato Eduardo Campos sobre a forma de encaminhar as soluções para os graves problemas que envolviam a CELPE.
Naquela oportunidade defendi, e ainda defendo, a reestatização da empresa enquanto estratégia, na perspectiva da defesa da economia popular e dos interesses mais elementares do povo pernambucano.
Eduardo Campos, em sua réplica, afirmou que a reestatização era “pra deixar para o panfleto” e que “na vida real”, se eleito, iria negociar duro com os controladores da CELPE e baixar a tarifa de energia elétrica.
Passados pouco mais de sete meses daquele debate, e após uma espetacular vitória sobre Mendonça Filho no segundo turno das eleições, com mais de 1,2 milhão de votos de dianteira, vimos os executivos da CELPE achando graça, conforme noticiado neste blog, das declarações do Governador Eduardo Campos propondo auditoria no faturamento da empresa, para aferir investimentos em programas sociais.
O estilo “duro” de negociar de Eduardo Campos causa frouxos de riso na CELPE.
Seria cômico, se não fosse trágico. É realmente digno de riso o governador, diante da estatura gigantesca das questões que envolvem a CELPE, propor a averiguação de investimentos da empresa em programas sociais.
Mas não é deste riso que vou tratar aqui, e sim do deboche embutido no riso da CELPE, na figura de seus diretores, diante de um pronunciamento do Governador do Estado.
Certamente a CELPE pensou como Eduardo Campos no referido debate: “esse pronunciamento deixa pro panfleto, pois na vida real somos intocáveis”.
Na prática vemos um governo eleito pelo povo prostrar-se impotente diante do poder econômico, que se vale de uma suposta segurança jurídica para atropelar os interesses populares e até debochar da maior autoridade pública no Estado.
Não se trata de questão de etiqueta, de bons modos.
O deboche em questão é apenas o “requinte de crueldade” do “crime”.
O grão é a cristalização de uma consciência social em que os monopólios privados podem tudo e são intocáveis.
Tenho muitas dúvidas se os executivos de multinacionais instaladas na Venezuela, Bolívia ou Equador acham graça quando os chefes destes respectivos Estados dão seus pronunciamentos sobre as áreas e empresas vinculadas a suas multinacionais.
Pelo contrário, tremem feito vara verde, e o chamado deus mercado, totem dos liberais, adapta-se, mesmo respondão, à vontade popular.
Acredito que Eduardo Campos tem em suas mãos os instrumentos para colocar a CELPE no seu devido lugar. É detentor de um mandato popular obtido com uma votação avassaladora.
Tem o comando da Assembléia Legislativa.
Terá a seu lado, de forma inequívoca, o conjunto da população pernambucana se insurgir-se contra a arrogância econômica e política da CELPE.
Estes instrumentos podem ser usados das mais variadas formas.
Uma CPI, combinada com uma auditoria pública do processo de privatização, fazendo uma “tomografia” do contrato e buscando os meios jurídicos para questioná-lo.
No terreno político, um plebiscito junto à população para definir pela reestatização ou não da CELPE, colocando a sociedade no debate sobre os rumos de uma empresa que atua sozinha numa área que responde por cerca de 1/3 das receitas do Estado.
Como sindicalista que fui durante muitos anos, e assessor de sindicatos e movimentos sociais por outros tantos, negociando com pequenos empresários até executivos de multinacionais, com secretários de governo, prefeitos, ministros, sei que qualquer negociação só sai do lugar com alteração da correlação de forças estabelecida.
Lamentavelmente, o governador não cria as condições para a alteração da atual correlação de forças.
Pelo contrário.
Sua opção de reduzir a tarifa para alguns segmentos de consumidores, sem mexer nos “sagrados” lucros da CELPE, mas sim diminuindo a arrecadação do Estado, foi mais uma declaração de fraqueza de seu governo.
As razões que levam o atual governo a comportar-se desta forma passam pela visão neoliberal predominante nesta gestão.
Passam também pelo fato do processo de privatização da CELPE ter sido iniciado sob a batuta do atual governador, o que causaria profundos constrangimentos num debate público e de mais fôlego.
Por fim, passam também pelo fato de que apoiar-se no povo para fazer justiça social e enquadrar monopólios foge do âmbito da democracia representativa, o que pode ser um tiro no pé daqueles que são acostumados e dependentes do revezamento quase combinado de uns poucos no comando do Estado.
PS: Edilson Silva é presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo de Pernambuco em 2006 e escreve todas as sextas-feiras para o Blog do Jamildo