O gosto amargo do açúcar Por Ernesto Barros Do Caderno C, especial para o Blog Depois de Cartola - Música para os Olhos e O Cheiro do Ralo, feitos por cineastas pernambucanos no Rio e em São Paulo, é chegada a vez de Baixio das Bestas (premiado no Festival de Brasília e em Roterdã, na Holanda), feito por pernambucanos em Pernambuco.

O poderoso filme de Cláudio Assis, que mostra a decadência da zona canaviera do Estado sob um prisma social e humano, é um soco no estômago, um coice de cavalo na má consciência brasileira.

Quem se acostumou a ver a riqueza aparente dos canaviais sem enxergar que milhares de trabalhadores não têm do que sobreviver, é capaz de ter uma síncope com a crueza das imagens da dupla Walter Carvalho/Cláudio Assis.

O viés de Baixio das Bestas é novo e insurgente ao mostrar como a região é palco de uma realidade dolorosa.

Como todo mundo sabe, a vida não é boa para os pobres no país inteiro, mas no Nordeste a coisa é muito mais complicada.

Além da pobreza, a violência tornou-se quase endêmica.

Baixio das Bestas tem como centro nervoso a violência contra a mulher.

Um menina adolescente é abusada e vive quase como escrava do avô, que a expõe como objeto sexual e a sevicia diariamente.

Além disso, jovens da região, oriundos do Recife, voltam no fim de semana e descontam toda sua fúria contra prostitutas pobres e indefesas.

Em três cenas de estupros, Cláudio Assis mostra porque hoje é considerado um dos diretores mais corajosos do país.

Baixio das Bestas mostra uma sociedade violenta, mas não é pornográfico no sentido estrito do termo.

Talvez seja pornográfico no sentido que Godard deu à palavra, quando se referiu às imagens dos judeus nos campos de concentração nazistas.

Baixio das Bestas não é cinema espetáculo, é cinema catártico.

Quem sabe se diante desse choque de realidade, diante de tanta violência, não nasce um espectador mais crítico?

Quem tiver coragem, que pague para ver.

Serviço Baixio das Bestas.

Dir.: Cláudio Assis.

Com Dira Paes, Hermila Guedes, Matheus Nachtergaele e Caio Blat.

Cinema da Fundação: 17h10 (exceto seg.), 19h (exceto seg.), 20h50 (exceto seg.).

UCI Ribeiro Recife 9: 12h20 (sáb. e dom.), 14h30, 16h40, 18h50, 21h, 23h10 (sex e sáb).

Drama, 18 anos.