Por José Maria Mayrink As águas do Rio São Francisco, que banham os Estados da Bahia, de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, dividem os bispos católicos do Nordeste.

Todos defendem a revitalização, um consenso documentado em declarações que apóiam iniciativas do governo para acabar com o assoreamento causado pelo despejo de esgotos e retirada de areia que estão matando o rio.

As divergências começam quando se fala em transposição ou captação das águas, projeto do Ministério da Integração Nacional que o presidente Lula promete executar.

Os bispos do Regional Nordeste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que reúne as 24 dioceses da Bahia e de Sergipe, são contra a transposição, embora nem todos sejam tão radicais quanto d.

Luiz Flávio Cappio, de Barra (BA), que em 2005 fez 11 dias de greve de fome, em protesto contra os planos do governo. “Há pelo menos sete anos, desde o momento em que se falou em privatização da água, os bispos da Bahia tratam dessa questão”, disse o cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador.

Contrário ao projeto de transposição, d.

Luiz acha que o governo está deixando cada dia mais claras as suas intenções. “Havia antes uma cortina de fumaça e propaganda enganosa, pois se alegava que o objetivo era dar água à população.

Hoje, vê-se que o objetivo é favorecer o agro e o hidronegócio, a carcinicultura (produção de camarão) e o uso industrial”, afirma o bispo de Barra.

Ele cobra a retomada do diálogo com o governo, mas avisa que não fará mais protesto individual. “Meu jejum conseguiu sensibilizar a sociedade, que agora deve levar a luta adiante.” Na Declaração de Serrinha, publicada em 8 de março pelo Nordeste 3, os bispos da Bahia e de Sergipe voltam à carga. “Vimos a público para confirmar nosso posicionamento contrário ao atual projeto do governo brasileiro de transposição de águas do Rio São Francisco, que não prioriza a dessedentação humana e animal no Nordeste”, afirma o texto, que mais adiante insiste: “Para que o governo reabra o diálogo com a sociedade civil em vistas da definição de projetos de desenvolvimento sustentável que garantam água e qualidade de vida para todo o Nordeste brasileiro”.