Por Sérgio Montenegro FilhoUm tiro que saiu pela culatra.

Esse parece ter sido o resultado da estratégia traçada pelo Palácio do Planalto de ampliar ao máximo as suas bases no Congresso Nacional para garantir a governabilidade do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os acontecimentos mais recentes revelam que não dá mesmo para confiar na força dos aliados, pelo menos os neófitos.

Não bastasse os interlocutores palacianos permitirem a aprovação da CPI do Apagão Aéreo, que o governo se empenhou em detonar, Lula, agora, ainda terá que negociar com cada um dos líderes partidários na Câmara dos Deputados, se quiser assegurar que a lama, dessa vez provocada pela crise dos controladores de vôo, não volte ao beiral da sua porta. É bom lembrar que, no primeiro mandato petista, o lamaçal foiprovocado - e muitas vezes revolvido - pelos próprios aliados.Agora, a CPI traz no seu bojo vários deputados próximos ao governo.

No entanto, como já é do conhecimento de todos, alguns delescertamente precisarão de algum "afago" do Planalto para estimular a sua postura em defesa do governo.

Saindo da área do Legislativo, o suposto gol contra da ampliação das bases governistas terminou, de certa forma, balançando as redes de outro setor sensível e caro ao presidente: os movimentos sociais.

O clima de descontentamento com a gestão de Lula é uma constante entreintegrantes de sindicatos urbanos e rurais, movimentos populares, estudantis e até religiosos.

A queixa comum é que o discurso do petista durante a campanha pela reeleição indicava uma guinada mais à esquerda, e na prática o que houve foi uma "direitização", com a inclusão de vários partidos de centro e direita no espectro governista.

Sobretudo o saco de gatos do PMDB.

Os primeiros resultados da insatisfação estão começando a se fazer notar.

Na semana passada, o poderoso MST ensaiou sua primeira investida concreta contra o governo, ao distribuir nacionalmente panfletos com a foto do presidente usando o boné do movimento, ilustrando a inquietante pergunta: "Por que não sai a reforma agrária?".

O tempero do cartaz é uma declaração de Lula à revista Caros Amigos, em novembro de 2000, em que ele bate forte no antecessor Fernando Henrique Cardoso (PSDB) exatamente por não fazer a reforma agrária desejada pelos movimentos campesinos.

Por outro lado, porém, uma intrigante pesquisa, divulgada pela Folha de S.

Paulo, revelou dados que bem poderiam dar ao Planalto uma justificativa para retardar o quanto quiser a reforma agrária.

De acordo com os números - fornecidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) - no primeiro mandato de Lula, os movimentos de sem-terra realizaram 1.708 invasões de propriedades rurais, contra 1.379 dos últimos quatro anos do governo FHC.

Trata-se de um aumento de 24% nas mobilizações.

No primeiro mandato de Lula, houve invasões em 790 cidades - 14% do total do País - contra 638 municípios invadidos no segundo mandato de FHC.

Um detalhe: Os dados mostram que na primeira gestão de Lula, seu Estado natal, Pernambuco, foi o campeão de invasões: 344.

São Paulo teve 228 e Paraná, 157.

O mais estranho disso tudo é que, embora protestem contra o que classificam como "maus-tratos" do governo petista - para o qual fizeram campanha abertamente nas ruas - os movimentos sociais recebem de Lula um tratamento político e financeiro bem melhor que o oferecido pelo governo FHC.

A diferença é que do adversário tucano eles não esperavam praticamente nada.

Já do aliado petista…