Por Cristovam Buarque Já não se comemora o Dia do Trabalho como antigamente.

As alternativas socialistas em crise, a força avassaladora do capitalismo global e a divisão dos trabalhadores entre incluídos e excluídos esvaziaram ideologicamente o Dia do Trabalho.

Ele perdeu o vigor vermelho, amarelou.

Porque o proletariado não redesenhou sua utopia, não reorientou sua revolução.

Perdeu vigor transformador, canaliza reivindicações sem propostas de transformação revolucionária.

Em uma época robotizada, a força do proletariado foi esvaziada pela "desnecessidade" do trabalho, o mundo do trabalho perdeu força.

No lugar da força das mãos, apenas o leve apertar de botões por pessoas especializadas.

Perdeu-se o sentimento da possibilidade de igualdade.

Todos nascem iguais: o cérebro do filho do rico capitalista tem o mesmo potencial do cérebro do filho do pobre desempregado.

A desigualdade é construída, sistematicamente, diariamente, pela diferença da escola.

A igualdade não virá da economia.

O acúmulo não é mais de capital, é de conhecimento.

Se não estudar, o filho do capitalista não será um patrão de sucesso, o filho do proletário que estudar terá toda chance, em função do seu talento, persistência, vocação.

Ainda há utopia: a mesma chance é possível para todos, filhos de patrões ou trabalhadores.

Há uma loteria que a todos premia: a escola, e um bilhete de loteria com o qual todos ganham: o diploma em cursos bem feitos e bem escolhidos.

O Dia do Trabalho precisa voltar a ser um dia de sonhos utópicos e vigor revolucionário por uma revolução pela educação para assegurar a mesma chance a cada pessoa, independentemente de onde tenha nascido e de quem seja filho.

Uma educação que desenvolva o potencial latente da criança ao nascer.

O trabalhador fazia greves setoriais por salários e gerais por mudanças e revoluções.

As setoriais ficaram cada vez mais frágeis e, sabiamente, cada vez mais raras.

Os poucos que têm trabalho temem os milhões de desempregados, e seus patrões sabem que negociando em tempo evitam paralisações daqueles que restam trabalhando.

O Dia do Trabalho nos faz pensar que é hora de voltar aos sonhos e à luta.

Convocar uma greve geral para que trabalhadores e o povo digam que querem o direito à mesma chance exigindo para seus filhos escola igual à dos filhos do patrão.

Uma greve geral de apenas uma hora para gritar "Educação já", como antes se gritava "Diretas já" ou "Viva o socialismo".

A Força Sindical tomou o meio ambiente como tema de seu evento deste 1º de maio. É prova de volta da utopia, porque só o equilíbrio ecológico permite a mesma chance entre gerações.

Mas é preciso ir além, educação para garantir a mesma chance entre classes sociais.

E levar o debate a todos os trabalhadores, de todo o Brasil!

Esse é um gesto revolucionário possível hoje.

Rompe com a paralisia e a acomodação conservadora do pensamento único do neoliberalismo, e com a acomodação e paralisia da esquerda tradicional que continua prisioneira da lógica da revolução pela economia.

A nova revolução da mesma chance considera que, no século 21, o capital e o desenvolvimento estão no conhecimento.

A distribuição não se dá mais pela concentração do capital nas mãos do Estado, mas na distribuição igualitária do conhecimento a todas as pessoas, desde a primeira infância.

A utopia está em fazer a escola do filho do mais pobre trabalhador igual à escola do filho do mais rico patrão.

Essa é a luta que permitirá avermelhar, outra vez, de outra forma, o Dia do Trabalho.

PS: Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT/DF.