Prefeito João Paulo e Dilson Peixoto entram com ações judiciais contra Edilson Silva, que faz retratação.

Por Edilson Silva* Nos últimos 15 dias fui informado da propositura de duas ações judiciais contra mim.

A primeira é movida por Dílson Peixoto, Presidente do PT e da EMTU, em função de artigo escrito neste blog, intitulado "Dílson Peixoto, EMTU e Cosa Nostra, um antigo e lucrativo caso amoroso".

A segunda é movida pelo Prefeito do Recife, João Paulo, em função do artigo também escrito neste blog, "E o Oscar vai para…Os irmãos cara-de-pau!".

Essas ações, separadas no ambiente jurídico, mas articuladas no terreno político, acontecem simultaneamente com as declarações de outro petista, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), Presidente da Câmara dos Deputados, dando conta de que processará Arnaldo Jabor, por comentários feitos em seus espaços na mídia, assim como os protagonistas do programa humorístico Casseta & Planeta, por episódios de seu programa na TV Globo. É a chuva de cacos de vidro enlouquecendo os petistas.

Antes de seguir neste artigo, gostaria de revelar aos leitores que gosto muito de música.

E sempre que estou no computador, principalmente elaborando textos para as publicações que recebem minha modesta colaboração, coloco um som ambiente que me estimule a pensar e/ou crie um clima que dialogue com meu estado de espírito.

As escolhas vão desde Racionais MCs e Êxito D\ ua, passando por Reginaldo Rossi e Charles Aznavour, até os Bobs Dylan e Marley, e por aí vai.

Para este artigo estava em dúvida entre três temas musicais.

O primeiro é aquela melodia que imortalizou a série "O Poderoso Chefão", que no seu primeiro filme imortalizou também a voz abafada do insuperável Marlon Brando no papel de Don Vito Corlleoni.

O segundo é uma música de uma dupla sertaneja, que não me recordo agora o nome, mas que tem um refrão que diz mais ou menos assim: "…cara de pau, êta amor… cara-de-pau…".

Mas escolhi a terceira opção, uma música da banda Paralamas do Sucesso, em que Herbert Vianna, o vocalista, verbaliza em tom de alerta: "…

Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou… (que tem mais de 300 picaretas no Congresso Nacional)", numa alusão a uma afirmação pública do então candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no tempo em que as chuvas de cacos de vidro caíam sobre outras cabeças.

Estabelecido o som ambiente, vamos em frente.

Quero, publicamente, fazer uma reflexão sobre os artigos que incomodaram tanto a alta cúpula petista em Pernambuco.

Primeiramente, sobre Dílson Peixoto, quero desculpar-me pela eventual falta de jeito.

Quando Dílson comandou a retirada dos kombeiros do Recife, certamente pensava exclusivamente na melhoria do funcionamento da cidade, sobretudo do centro e adjacências.

Pensando bem, aqueles milhares de pais de família e jovens, com suas 1.800 kombis e vans, boa parte delas ainda sendo pagas a financeiras, não poderiam continuar incomodando o bem-estar de outros.

O fato de muitos deles terem ficado reféns incondicionais do desespero, ajudando a cristalizar Pernambuco como um dos Estados onde o desemprego tem uma das maiores taxas do Brasil, é uma conseqüência da seleção natural do sistema capitalista que vivemos, não é verdade?

O maior come o menor. É o "laissez-faire", de Adam Smith e cia.

Além do mais, deveria estar na mente de Dílson a intenção de melhorar a qualidade dos serviços de transporte coletivo de passageiros.

Nesse sentido, o fato da retirada dos kombeiros ter permitido que as empresas se sentissem sem concorrência, podendo aumentar sem freios as tarifas, e relaxar ainda mais na qualidade dos transportes, tanto em conforto, segurança e aumentando os intervalos, foi um acidente de percurso, imprevisível, que poderia acontecer com as melhores famílias.

Eu não disse "famiglia".

Sobre o lamentável episódio do aumento das passagens no final de 2005, outra possível falta de jeito de minha parte.

Quando Dílson falou que o reajuste não cobria o aumento dos custos dos empresários do setor, ele estava pensando na saúde financeira do sistema de transporte público da cidade.

Como os empresários poderiam manter seus excelentes serviços à população sem ter uma boa remuneração?

Outra coisa, esse pessoal que não tem dinheiro pra circular de ônibus pela cidade, que não chega a ser a metade da população das periferias, precisa compreender que alguns serviços não são para todos.

Transporte coletivo é um deles.

Dílson nisso pode ter sido inclusive visionário.

Acompanhem o raciocínio: passagem mais cara = menos passageiros = menos ônibus = menos poluição e congestionamento na cidade.

Ele nos brindou com uma concepção meio Malthusiana para o transporte coletivo, pensando lá na frente,inclusive na diminuição do aquecimento global, quem sabe.

E tem mais.

Na medida em que tornamos o transporte coletivo inacessível para cada vez mais pessoas, abrem-se as portas para o exercício da criatividade por parte destas, criatividade que poderá fazer bem à saúde, diminuindo assim os gastos do SUS – Sistema Único de Saúde, sobretudo com doenças ligadas ao sedentarismo.

O transporte via bicicletas, skates, patins, patinetes, no lombo de burros, carroça, ou mesmo a pé, impõe às pessoas uma rotina de exercícios físicos que as tornarão muito mais saudáveis.

Isto é que é espírito público e visão de futuro!

Para fechar esta parte, não poderia deixar de falar na questão do seguro contra acidentes.

Mais uma vez pode ter havido um eventual equívoco.

Estas empresas de seguro são mesmo de amargar.

Cobram uma fortuna dos pobres empresários e na hora de cobrirem os custos com acidentes ficam protelando,prejudicando a população.

Então, já que a população está sendo prejudicadamesmo, é melhor que este custo seja retirado das empresas e estas, como todos devemos sempre acreditar, transferirão esta redução de custos para astarifas.

Mas neste caso, a concepção meio malthusiana nos ensina que esta redução pode aumentar o número de passageiros, e isto pode ser perigoso, como vimos acima.

Portanto, deixemos isto na mão de quem entende do assunto, o pessoal da EMTU e seu Presidente, que é quem domina esta área.

JOÃO PAULO Sobre o Prefeito João Paulo, como alguém pode pensar que ele sabia e tinha participado minimamente das conversas sobre o aumento de 43% em seusvencimentos?!

Como alguém pode ser tão ignorante sobre a legislaçãomunicipal?!

Mais, como toda a mídia e grande parte da sociedade pode pensar isto do Prefeito?

Minha gente, o prefeito não participou de nada, pois isto é assunto da Câmara Municipal!

Se fosse um aumento maior, de 100% no mínimo, talvez ele até tivesse sido consultado, mas só 43% não justificaria de forma alguma nenhum tipo de conversa prévia.

Só agora percebo que o fato do aumento ter sido votado em regime extra-pauta, escondidinho, pode ter sido uma tática para premiar o Prefeito por seu sacrificante trabalho à frente da PCR, uma surpresa, que seria consumada em pleno carnaval, em ritmo de folia.

Como o assunto é de competência exclusiva da Câmara de Vereadores, o Prefeito obviamente não iria se posicionar sobre ele ao ver a proposta aprovada pelo legislativo em sua mesa.

Seria no mínimo indelicado.

E tem ainda a questão de que Recife é uma cidade realmente grande, com problemas proporcionais ao seu tamanho.

Então, o fato de o povo sobreviver com ou sem bolsa-família, com salários miseráveis, o fato do povo e os servidores do município serem chamados constantemente para fazer cada vez mais sacrifícios, não impõe ao Prefeito a missão terrível de ter quesobreviver com uma merreca de cerca de R$ 10 mil por mês. É muito pouco, convenhamos.

Imaginem um executivo do setor privado com as responsabilidades do nosso Prefeito?

Quanto ganharia?

Ou seja, temos mesmo que parar de achar que a gestão pública é uma opção de vida em que o enriquecimento é imoral ou anti-ético.

Político tem que ganhar bem, muito bem, pois se ele não fosse político estaria enriquecendo em outro lugar, não é verdade?

Portanto, eu, Edilson Silva, com esta minha visão de zé povinho, posso ter distorcido um pouco as coisas, achando que estes políticos são responsáveis por muitos problemas que afetam o nosso povo.

Desculpa aí.

Foi mal. *Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao Governo de Pernambuco em 2006 e escreve todas as sextas-feiras para o Blog de Jamildo.