Por Jacques Ribemboim Tudo que se queria era um parque.
Há poucos no Recife – e na Zona Sul, menos ainda.
Um parque com árvores, local para caminhadas e ciclismo, um bom gramado, quem sabe uma pequena lagoa, alguns patinhos, as crianças brincando a salvo dos bandidos.
Nada mais que isto.
E tudo parecia estar resolvido.
O governo federal cumprindo com sua obrigação, liberando o terreno que de nada lhe servia, a população participando do processo, os ambientalistas externando suas posições.
Daí começam a complicar.
O que tinha tudo para ser um gol de placa se transforma em um dramalhão.
Primeiro a idéia de personificar o local de lazer, homenageando o presidente com o nome da sua mãe.
Vá lá que seja, todos têm simpatia por d.
Lindu.
Depois, a de contratar uma equipe de fora para realizar o projeto arquitetônico – ainda que com a grife Niemeyer.
Ora, o genial arquiteto desenha seus projetos em guardanapos de papel e deixa o detalhamento para os auxiliares.
Duvido que ele tenha vindo a Pernambuco visitar o local.
Duvido que tenha escutado a população ou se informado sobre os inúmeros teatros, auditórios e espaços culturais que se encontram ociosos.
Não precisamos de novas arenas para megashows, porém, de mais cuidado com as que já existem.
O que é feito do Geraldão, do Centro de Convenções, do Marco Zero, dos teatros municipais, alguns cheirando a mofo?
Não podemos permanecer calados. À comunidade acadêmica e científica cumpre um papel determinante.
Em particular, nós, economistas ambientais, podemos contribuir significativamente para este debate.
A ciência econômico-ambiental, apesar de relativamente nova, encontra-se madura em seus argumentos em favor do meio ambiente, da preservação da cultura, no respeito às minorias.
Para este anfiteatro móvel que nos impõe o escritório sudestino (barato no guardanapo, mas caríssimo nas contas públicas), bastaria um estudo de impacto ambiental para reprová-lo.
Evitaria que milhares de assinaturas se reunissem em listas para demover a prefeitura de sua empreitada.
As atuais 891 páginas do Google sobre o parque atestam o que afirmamos.
Projetos para a construção de mega-arenas em áreas residenciais sequer são levados a sério em países desenvolvidos.
Ainda mais – reconheçamos – com os perigos que grassam nas grandes aglomerações em espaços públicos.
Se houver balbúrdias ou tragédias, serão os nomes do prefeito e do presidente que serão cobrados.
Pode ser fácil transformar pesadelos em sonhos e ainda restam esperanças.
Jacques Ribemboim é economista ambiental e presidente da ONG Civitate.
E- mail: jacquesribemboim@oi.com.br.