Da Agência Estado São Paulo Morreu neste domingo, aos 94 anos, Octavio Frias de Oliveira, publisher do Grupo Folha.
A morte ocorreu às 15h25, em decorrência de complicações que começaram em novembro, quando sofreu uma queda em casa e precisou ser submetido a uma cirurgia para a remoção de um hematoma craniano.
Nas últimas semanas, o quadro clínico do empresário piorou.
Ele teve uma insuficiência renal grave e estava inconsciente havia alguns dias.
Até as 20h30, ainda não havia sido definido onde o corpo seria velado nem detalhes do enterro de Frias.
Adolescência difícil - Carioca por acidente, o jornalista Octavio Frias de Oliveira nasceu em Copacabana, na casa dos avós, em 5 de agosto de 1912, quando sua família morava em Queluz, na divisa de São Paulo com o Estado do Rio.
Nessa cidade, seu pai, Luiz Torres de Oliveira, era juiz.
Descendente de nobres endinheirados, os barões de Itambi e de Itaboraí, ele atravessou infância e adolescência apertadas em São Paulo.
Ainda menino, precisou arrumar emprego para ajudar nas despesas, quando estudava no Colégio São Luís, na AvenidaPaulista.
Usava sapatos furados e andava de bonde, enquanto os colegas ricos desfilavam de carro.
Foi office-boy, vendedor de aparelhos de rádio, funcionário público, incorporador imobiliário, corretor de títulos, banqueiro e criador de frangos, antes de comprar a Folha de S.Paulo, uma decisão que mudou sua vida, aos 50 anos de idade.
Pagou a fatura com cheque, numa sexta-feira, 13 de agosto de 1962, avisando que o dinheiro só estaria disponível três dias depois.
Era um negócio de ocasião, porque não tinha a intenção de investir na imprensa.
Frias conhecia bem a Folha, pois uma pequena corretora de sua propriedade, a Transaco, vendera assinaturas do jornal, mas não era do ramo. "Não tinha nenhum gosto pela atividade", revelou ao jornalista Engel Paschoal, autor do livro "A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira", biografia lançada em agosto.
Frias era funcionário público da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, quando estourou a Revolução Constitucionalista, em 1932. "Eu não acreditava naquela revolução, achava que íamos perder, mas a pressão era tão grande que resolvi me alistar, para desespero de meu pai, que não queria que eu fosse de jeito nenhum." Gosto pelo esporte - Contemporâneo do escultor Brecheret do pintor Di Cavalcanti e do poeta Guilherme de Almeida, que também lutou em 1932, Frias não queria saber de vida intelectual.
Gostava de praticar esportes.
Jogava futebol e tênis, torcia pelo Paulistano e depois pelo São Paulo, treinava no Palmeiras e descia a serra pelo Caminho do Mar para nadar em Santos.
Andou a cavalo até os 83 anos, esquiou até os 84, mergulhou até os 89, praticou ioga e dirigiu até os 92.
Em 1947, casou-se com sua primeira mulher, Zuleika Lara de Oliveira, que morreria num acidente de automóvel - ela e um irmão de Frias, oito anos depois, quando ele bateu de frentenum caminhão, na Via Dutra.
Voltavam de São José dos Campos, onde o empresário montou a Granja Itambi para a produção de frangos.
Nunca chegou a ser um bom negócio, mas era um passatempo que adorava.
Aos 36 anos, pediu demissão no emprego público para se tornar sócio do Banco Nacional Imobiliário (depois Inter-Americano), com participação de 10% do capital.
Quando o BNI quebrou, após financiar a campanha eleitoral de Orozimbo Roxo Loureiro, sócio majoritário, Frias sofreu o baque, embora estivesse licenciado.
Recomeço - Com os bens bloqueados, foi obrigado a recomeçar do nada.
Dedicou-se à Transaco, corretora que vendera assinaturas da Folha.
Estendeu seus negócios ao Rio, onde vendeu também assinaturas da Tribuna da Imprensa e distribuiu material de propaganda de Carlos Lacerda na campanha para o governo do então Estado da Guanabara.
Em 1955, passou a morar com Dagmar de Arruda Camargo, quando ela se separou do marido.
Oficializaram a união dez anos depois, quando Dagmar já era viúva.
Ela trazia uma filha do primeiro casamento, Maria Helena, e teve mais três com Frias - Otavio, Maria Cristina e Luís.
Havia também Beth, a filha que ele havia adotado com Zuleika, sua primeira mulher.
Beth morreu em fevereiro de 1981.
Ao comprar a Folha, o empresário que não queria saber dejornal instalou-se no quinto andar do prédio da Alameda Barão de Limeira, onde ele e Caldeira ocupavam salas vizinhas.
Confiou a redação ao jornalista José Reis e dedicou toda a atenção à situação econômica e financeira da empresa.
Em 1965, comprou também os jornais Última Hora, Notícias Populares, Folha da Tarde e a Cidade de Santos.
O vespertino Folha da Tarde foi uma dor de cabeça para o empresário durante o regime militar, quando passou das mãos de uma equipe de esquerda em 1969, para um grupo de direita, nos anos seguintes.
Depoimentos de editores que trabalharam na empresa nessa época atestam a infiltração de policiais na redação e a utilização de caminhões de transporte da Folha em missões clandestinas do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura.
A situação mudou a partir de 1976, quando o jornal abriu suas páginas para o debate pluralista de idéias, iniciativa que todos creditam a Frias.
Em 1983, o jornal apoiou a campanha Diretas Já, que levou multidões às ruas, no ano seguinte, numa mobilização nacional pela eleição direta do presidente daRepública.
Esse engajamento político aumentou o prestígio e acredibilidade da Folha entre os leitores.