Da revista Consultor Jurídico A Editora Planeta e o jornalista Paulo César de Araújo cederam a todas as exigências do cantor Roberto Carlos e se comprometeram a não mais publicar a biografia Roberto Carlos em Detalhes.

O acordo judicial — quer mais parece uma rendição — foi fechado nesta sexta-feira (27/4), em audiência presidida pelo juiz Tercio Pires, titular da 20ª Vara Criminal de São Paulo.

O cantor movia uma queixa-crime onde sustentava ser vítima de invasão de privacidade, ofensa à honra e uso indevido de imagem.

De acordo como rei da Jovem Guarda, a obra tratava indevidamente de assuntos sobre sua vida íntima.

Uma outra ação, na esfera civil, corre em uma vara da Justiça do Rio de Janeiro, onde o cantor reclama indenização por danos morais.

Pelo termo de conciliação, a editora deverá entregar a Roberto Carlos os 10,7 mil exemplares do livro que estão em seu estoque e ainda recolher, no prazo de 60 dias, todos os que estiverem à venda nas livrarias, com imediato encaminhamento ao artista.

Após esse prazo, o cantor poderá comprar quantos exemplares encontrar e ser ressarcido pela editora, até o limite de R$ 2 mil mensais, num período de um ano, mediante apresentação de notas fiscais.

A Editora Planeta também se comprometeu a não mais produzir a biografia, a partir de agora, mesmo que seja com outro título.

Já o jornalista Paulo César de Araújo não poderá publicá-la por outra editora nem fazer, em entrevistas, comentários sobre o conteúdo do livro no que diz respeito à vida pessoal do cantor.

Roberto Carlos se comprometeu a desistir da ação civil que move no Judiciário do Rio de Janeiro.

O cantor disse que se sentiu ofendido e concluiu que houve invasão de privacidade com a divulgação de histórias sobre a sua vida.

Roberto Carlos em Detalhes conta a trajetória do cantor, sem omitir fatos dolorosos como a amputação de parte de uma perna, sua relação com a atriz Myriam Rios e a morte de Maria Rita, sua última mulher.

Em entrevista ao O Globo Online, o autor Paulo César Araújo lamentou o acordo: "Esta decisão é frustrante para a história da música popular, para os fãs de Roberto Carlos e para a democracia brasileira, por impedir que se publique uma obra sobre um dos maiores ídolos em nível nacional e internacional".

Para Araújo, o acordo ofrmaliza um ato de censura: "É uma censura que vai pesar sobre os ombros do rei.

Ele contribuiu para volta da censura ao país".

CríticaÀ parte o descontentamento do biografado, o livro de Paulo César Araújo é uma obra de valor inegável, reconhecidos pela maioria dos críticos.

Trata-se de um levantamento fartamente documentado de toda a trajetória do cantor e compositor desde seu nascimento em 1941.

Além de reconhecer e colocar em destaque a importância de Roberto Carlos na história da música popular brasileira, faz ainda uma bem elaborada contextualização da obra de Roberto Carlos na história e na música do país.

O autor relata com acuidade tabus da vida do ídolo, como o acidente ferroviário que resultou na amputação de uma de suas pernas quando tinha 6 anos de idade.

Mas em nenhum momento faz explorações indevidas ou sensacionalistas dos fatos.

Inverdades, como Roberto Carlos afirma existir, não são facilmente detectáveis.

Se há, estão muito bem fundamentadas e explicadas e só podem ofender à sensibilidade doentia do biografado.Araújo escreve com responsabilidade e com a desenvoltura só possível porque não se trata de uma biografia autorizada.

Quem ganha é o leitor e a história.

Mesmo que o ídolo não goste.