Por Sheila Borges Da Editoria de Política do Jornal do CommercioMilitante histórico do PSB e, por 20 anos, braço-direito do ex-governador Miguel Arraes, Adilson Gomes pediu desligamento do partido nesta sexta (20), deixando a secretaria-geral da executiva estadual, o segundo cargo mais importante do organograma da sigla.

Ele já entregou a carta solicitando o afastamento ao presidente Milton Coelho.

A decisão torna pública a crise que a legenda enfrenta desde o fim do primeiro mês da gestão do governador Eduardo Campos (PSB).

Com a volta dos socialistas ao poder, há uma disputa interna pelo controle da legenda.

Nessa queda-de-braço, os arraesistas históricos – grupo ao qual Adilson pertence – estão perdendo espaço para os militantes mais ligados a Eduardo, chamados de “dudusistas”.

Os dudusistas estariam dispostos a fazer todo tipo de concessão para manter a coalizão das forças que sustentam a base do governo Eduardo, formada por 17 partidos.

Isso não estaria agradando aos arraesistas, que ainda têm recordações amargas do inchaço que a legenda sofreu no terceiro governo Arraes (1995/98).

Com a derrota de Arraes para o hoje senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), em 98, apenas os socialistas históricos ficaram ao lado do ex-governador. É por isso que, em muitos municípios, a ala mais autêntica do PSB está em pé de guerra com o retorno dos “adesistas de plantão”.

Esse terceiro grupo é composto pelos neodudusistas, ou seja, pelos militantes dos partidos que aderiram à campanha vitoriosa de Eduardo e pelos oposicionistas que não conseguem ficar distante do Palácio.

O clima piorou quando, no interior, parte dos cargos do terceiro escalão do governo foram ocupados pelos aliados de “segunda hora”.

A coalizão trouxe para a Frente Popular políticos que abandonaram Arraes em 98, e isso os arraesistas históricos não perdoam.

Esses episódios estavam sendo minimizados esta sexta.

A gota d’água foi uma atitude tomada por Milton Coelho: desmarcar todos os eventos da Agenda 40, programa que seria iniciado hoje com uma reunião em Salgueiro, no Sertão Central.

Adilson Gomes, que estava organizando os encontros (nove no total), foi avisado de última hora.

Ele confessou aos amigos que considerou “deselegante” a atitude de Milton.

A versão oficial é que a Agenda 40 só deveria ser realizada em julho, após a conclusão da campanha de recadastramento e de filiação que o PSB promove até 30 de junho.

Extraoficialmente, porém, o Palácio não estaria interessado em criar um fórum de debates porque o descontentamento das bases do interior viria à tona.

Além de nomear para muitos cargos pessoas ligadas aos partidos que faziam oposição à legenda, o governo está demorando a concretizar uma das principais promessas de campanha: a interiorização das ações.

Assim, os debates da Agenda 40, agora, poderiam “fragilizar” a imagem do governador.

Adilson desligou o celular e avisou, por meio de amigos, que só irá falar sobre o assunto na próxima semana.