Açougueira, sacoleira, dona de pensão, empresária de casa noturna.

A trajetória de Odete Miranda dá um livro.

Ela sabe disso e reafirma que vai escrever o seu, como já havia contado em primeira mão ao Blog na semana passada. “Tenho muita história para contar”, diz. “E cada dia aparecem mais páginas”.

Odete Ferreira de Miranda nasceu no dia 18 de março de 1958, em Pendências, interior do Rio Grande do Norte, perto de Macau. “Sou pisciana com ascendente em áries”, conta.

Em Natal, foi casada por quase 9 anos com um dono de açougue, onde ela também trabalhava.

O casamento acabou em 1988.

No ano seguinte, ela veio para o Recife, trazendo os dos filhos homens - na época com três e sete anos de idade.

Aqui começou a trabalhar como sacoleira, vendendo roupa no esquema porta-a-porta para uma distribuidora de confecções em Boa Viagem.

Foi assim que começou a entrar em contato com prostitutas.

PROGRAMAS Odete diz que nunca precisou fazer programas. “Mas teria renunciado ao pudor, a tudo, se fosse para alimentar meus filhos”, afirma. “Não existe mulher direita quando tem um filho com fome”, acredita.

A partir de 1990, começou a alugar vagas para três garotas de programa, como uma pensão, no Edifício Iran, na rua 7 de Setembro, centro do Recife.

Os quartos, segundo garante, não eram usados para encontros sexuais.

Eram apenas quartos de dormir. “Não sou santa, nem sou Cristo.

Apenas alguém que viu as garotas (de programa) como gente e deu a elas um tratamento diferencial”, conta.

A iniciativa deu certo.

E em 1992 ela já estava na cobertura do Edifício Ruivo, no Pina, onde no térreo havia o resturante Praia Lanche.

Lá, Odete chegou a alugar vagas para 37 mulheres.

Três anos mais tarde, mudou-se para uma casa na Rua Artur Leite, em Piedade.

O número de garotas morando com ela diminuiu para 16.

Mas voltou a aumentar em 1999, quando ela se transferiu para uma casa com piscina em Setúbal, onde funcionava um barzinho no mesmo modelo do atual Maison. “Aluguei um apoio ao lado da casa de shows, onde chagaram a morar 40 meninas”, lembra.

Em 2003, a polícia fechou a casa por duas vezes e Odete respondeu a processos por favorecimento à prostituição e rufianismo (agenciar encontros sexuais).

Absolvida em ambos, chegou a andar com um salvo-conduto para evitar novas prisões.

Foi aí que decidiu separar sua casa do seu trabalho.

DONA DE CASA Em julho de 2005, alugou o atual espaço do Maison em Candeias e uma casa em Piedade, onde mora com os dois filhos, as duas noras e uma secretária. “Estou solteira e não procuro ninguém”, adianta.

Odete também tem dois netos - um menino de nove e uma menina de quatro anos - que moram com as mães.

A relação com o ex-marido não é das melhores.

Tiago, o filho mais novo, de 22 anos, ajuda a mãe a administrar o Maison.

Ainda está em plena recuperação de uma gastroplastia (cirurgia de redução do estômago). “Com a tensão, estouraram três pontos”, afirma.

As duas noras acompanharam Odete nesta quinta (19), na entrevista a Graça Araújo na Rádio Jornal.

O filho mais velho, de 26 anos, pai dos netos de Odete, prefere o anonimato. “Escancararam minha vida.

Tiraram minha paz.

Mas sou uma mulher do lar, vivo para minha casa”, diz a empresária.