Por Luciano Siqueira Cem primeiros dias de governo – um marco.
Não deveria ser assim, mas é.
Salvo engano, é assim desde Kennedy, nos EUA, no início dos anos 60, que acenou aos norte-americanos com mudanças expressivas nos seus cem primeiros dias de gestão.
Uma jogada de marketing que pegou – e se espalhou pelo mundo disposto a copiá-la.
Nós a copiamos no Brasil.
De tal sorte que os recém-chegados ao governo procuram salientar os cem primeiros dias, assim como os que estão na oposição antecipam suas cobranças.
Não devia ser assim porque cem dias é um prazo curto.
A rigor, o novo governo leva cerca de oito meses para se estruturar de fato. É a fase de implantação, quando as equipes se formam, o diagnóstico da situação encontrada se conclui, as políticas setoriais se estruturam, programas existentes se ajustam e novos programas começam a se implantar. É o tempo administrativo.
Porém o tempo “social” – chamemos assim a percepção do cidadão comum – mira o imediato, aguarda realizações para ontem, pressionando o governante.
E o tempo político-eleitoral – que já leva em conta o próximo pleito, que mesmo sendo municipal colocará o governo do estado na berlinda – cuida de acirrar o debate.
Eduardo Campos, politicamente muito hábil, tem o que apresentar, se considerarmos esses três tempos de governo distintos e entrelaçados.
Tem combinado a estruturação do governo com a prática de gestos que sinalizam para a opinião pública e o mundo político o conteúdo essencial e o tipo de gestão que pretende realizar. É um olho na reza e o outro no padre, como diz o matuto.
O olho na reza: revela, pouco a pouco, a real situação herdada da gestão anterior da dupla Jarbas-Mendonça, onde pontifica, no aspecto financeiro, o desmonte da falácia de que encontraria o estado com saudáveis R$ 1,2 bilhão em caixa.
Eduardo afirma que encontrou o Estado com um saldo de R$ 255 milhões negativos; acrescidos de mais R$ 66 milhões na Saúde, que teriam sido desviados do SUS (Sistema Únicos de Saúde) para outras áreas.
O olho no padre: entre a visita à Ilha de Deus, comunidade das mais pobres do Recife, e a viagem a Caracas, para tratar da Refinaria de Petróleo junto ao presidente Hugo Chávez, passando pela exploração do que há de positivo nas vindas do presidente Lula a Pernambuco, Eduardo procura se apresentar como um governante dinâmico e operoso.
E consegue ser visto assim, mesmo em atos oficiais para assinatura de ordens de serviço relativas a obras contratadas no governo passado.
Porém, político experiente, ele sabe que precisa agir mais rápido em três áreas que encontrou em situação calamitosa: segurança, saúde e educação.
E assim ultrapassar o marco dos cem dias exibindo a imagem de um governo ágil e produtivo.
PS: Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife, pelo Pc do B, articulista do Blog e escreve neste espaço sempre às quartas-feiras.