2% Por Gustavo Krause É o que representa o transporte aéreo no conjunto dos modos de transporte de passageiros do Brasil.
Ou seja, é um meio potencialmente acessível a 2% dos 184 milhões de brasileiros.
Segundo a Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC), o setor cresceu quase 50% nos últimos três anos, descolando-se do modesto crescimento do PIB.
A boa notícia é que o setor cresce à moda chinesa e as viagens de avião se popularizam graças à estratégia empresarial do "low cost, low fare" (custo baixo, tarifa barata); a má notícia é a inépcia do governo Lula que investe à moda africana e dá a entender ao distinto público que a crise do "apagão aéreo" é, para variar, uma traição, mais uma dentre tantas punhaladas que o Chefe alegou como ocorreu com mensaleiros, sanguessugas e aloprados de todo o gênero.
O buraco é bem mais embaixo e Deus permita que outras vidas humanas não sejam tragadas pelo buraco da negligência governamental.
Como se trata de 2% da população (embora a economia e a sociedade sejam prejudicadas), as pessoas são apenas um "detalhe".
Não é um colégio eleitoral relevante para merecer a devida atenção.
E toda vez que me defronto com este tipo de número me vem à cabeça uma frase atribuída ao monstro Stalin que teria dito: "a morte de um homem é uma tragédia; de milhares de homens, um dado estatístico".
Assim sacrificou a vida de 50 milhões de compatriotas.
O drama da família do cidadão que morreu enfartado; a cirurgia de urgência que não ocorreu; o sonho das férias que não se realizou; a noiva que não chegou ao altar; o transtorno dos idosos, das crianças, dos enfermos; tudo, embora não pareça ao governo, toca na sensibilidade humana e confirma o que a gente está cansado de saber: o governo Lula é medíocre na bonança e desastrado na crise.
Na bonança, não aproveita os ventos que têm turbinado a economia internacional e não consegue, sequer, construir uma agenda que seja relevante para o futuro do país. É Balbinoti pra lá, apagão pra cá e muito papo-furado.
Na crise, o roteiro é sempre o mesmo.
Não sabe e não vê, isto é, falta-lhe a presciência do verdadeiro homem de estado que pode até não enxergar mais, porém, tem, pelo menos, que enxergar antes.
Porque se não enxerga o mal no começo que é difícil de ver e fácil de curar, será engolido pelo mal quando ele fica fácil de ver e difícil de curar.
Não era difícil ver a carência dos investimentos, a obsolescência do modelo de gestão dos aeroportos e da segurança dos vôos como não é difícil de enxergar que os problemas tendem a aumentar pelo crescimento da demanda das viagens aéreas e, por conseqüência, a agravar o risco dos passageiros.
O que se viu, no entanto, foi Presidente jogando gasolina no incêndio do apagão: mexeu na hierarquia militar – o alicerce das Forças Armadas; depois, como bem disse Élio Gaspari, amarelou; desautorizou o ministro do planejamento e expôs aos olhos perplexos da nação a fragilidade gerencial de um homem de respeitável biografia que é o ministro Waldir Pires.
Com maestria, porém, usou a esperteza da raposa que lhe sobra por lhe faltar, em dose adequada, a coragem do leão como recomendava Maquiavel à natureza do Príncipe.
Endureceu com lado mais fraco onde rebenta a corda.
A partir de agora, o que acontecer com o passageiro é culpa dos controladores de vôo sobre os quais recaem a mão pesada das instituições militares, precárias condições de trabalho e a condenação prévia constante de sentença irrecorrível, prolatada pelo supremo Magistrado do país. Às vésperas da Semana Santa, Lula usou o discurso apropriado para ir fundo no imaginário popular: disse que foi traído pelos controladores de vôo e personificou Judas; fez-se vítima como o mártir do Gólgota, o Cristo do enredo, o que lhe garante, Aleluia, o reino dos céus até porque o inferno são os outros.