Em entrevista à Folha de S.
Paulo, o deputado federal petista Carlos Wilson, que foi presidente da Infraero no primeiro governo Lula, diz que caso a CPI sobre a crise aérea seja instalada, a oposição também terá de se explicar.
Confira.
Da Folha Online A Infraero tem 40 processos no TCU, é investigada pelo Ministério Público e sofre auditorias internas.
A estatal é a caixa-preta do governoLula?
Carlos Wilson - Antes do governo Lula, existia uma clara intenção de esvaziar a Infraero para privatizá-la. É perfeitamente normal que uma empresa que adquiriu visibilidade passe a ser visada e disputada.
Estranho seria se a Infraero não fosse investigada.
Nos três anos e três meses em que eu estive lá, a Infraero nunca deixou de fornecer informações.
No caso de Congonhas, por exemplo, foi levantada no Ministério Público uma questão, mas a primeira fase da obra foi licitada em 2002 (governo FHC).
O fato de tantos órgãos investigarem a Infraero ao mesmo tempo não é indício de que algo estava errado?
Carlos Wilson - O TCU é o órgão tecnicamente correto para fazer as apurações e muitas das denúncias já foram arquivadas.
Mas o arquivamento não é tão notícia quanto a denúncia.
A Infraero é uma empresa modelo.
Graças à eficiência de seus funcionários se evitou um mal maior durante o apagão aéreo.
Se não fossem as obras, a situação teria sido muito mais caótica.
O sr. é favorável a que a CPI investigue a sua gestão?
Carlos Wilson - Investigação tem de ser feita sempre.
O que eu estranho é que a Infraero tem fornecido tudo o que é solicitado.
Se fala numa CPI, que eu procurei para assinar e defendo.
Sou contra a politização que está se dando.
Se for uma CPI restrita ao apagão, o sr. concorda?
Carlos Wilson - A questão de ser restrita não é por eu ser contra que se apure nada relacionado à Infraero.
A empresa tem 35 anos.
Tem processos na Infraero que ainda estão pendentes no TCU de mais de dez anos.
Por exemplo?
Carlos Wilson - O aeroporto de Salvador gerou uma polêmica muito grande.
Foi construído numa parceria entre governo da Bahia e Infraero.
A oposição então tem telhado de vidro?
Carlos Wilson - Não quero colocar assim.
Parece que estou querendo esconder acusações ameaçando com outras.
O sr. integraria a CPI?
Carlos Wilson - Não sei, isso é uma questão para a liderança do meu partido.
Mas eu estarei presente para contribuir.
A Infraero tem de continuar vinculada à Defesa?
Carlos Wilson - Tem.
Existem atribuições sintonizadas entre a área de segurança e a questão aeroportuária.
Os controladores devem ser desmilitarizados?
Carlos Wilson - Ninguém resolve desmilitarizando.
Tem que ter um plano de cargos e carreiras dentro da própria Força.
Isso tudo foi mal conduzido.
O que está por trás da situação dos controladores de vôo é que houve participação também deles no que se refere ao acidente da Gol.
Os controladores estão querendo fugir à responsabilidade que tiveram?
Carlos Wilson - Cada um está procurando diminuir as suas responsabilidades.
Quando o sr. diz que foi mal conduzida essa crise o sr. se refere a quem?
Carlos Wilson - Inclusive ao Congresso.
A Câmara, no lugar de constituir uma CPI ou uma comissão especial para investigar, politizou a questão.
E a Defesa?
Carlos Wilson - Também.
A responsabilidade é de muitos.
O sr. se diz amigo do presidente.
Tem apoio dele?
Wilson - Conheço Lula desde quando ele estava preso.
Esta amizade é boa, me dá satisfação, mas também traz ônus, porque ficam imaginando que, atingindo a mim, atingem a ele.