\Aeronáutica é uma caixa-preta\ A pesquisadora Rita de Cássia Seixas Sampaio Araújo teve um motivo muito forte para se interessar por segurança aérea.

Seu marido, Flávio de Araújo Filho, então com 40 anos, era um dos passageiros mortos com a queda do Fokker 100 da TAM, em 31 de outubro de 1996.

Mas sua pesquisa, faz questão de ressaltar, vai além das motivações pessoais: "Pesquiso saúde de trabalho há dez anos." Uma das diretoras da associação de vítimas do acidente, Rita ficou indignada com o relatório oficial sobre o acidente, que atribuiu a queda do avião a erros do piloto. "O sistema sempre prefere culpar uma pessoa, em vez de reconhecer suas falhas", afirma.

O controle da Aeronáutica, com sua estrutura militarizada, sobre a aviação, é o grande problema apontado pela pesquisadora. "A Aeronáutica é uma caixa-preta", afirma. "A sociedade não sabe os riscos que ocorrem no tráfego aéreo, e os próprios funcionários, por causa da burocracia, têm dificuldade de solucionar os problemas." O controlador de vôo Sueyoshi Sasaki, de 41 anos, também reclama da burocracia.

Ele descreve o trajeto de uma reclamação: "A queixa de um controlador tem de ser levada ao chefe da equipe, que passa ao adjunto do órgão, que apresenta ao chefe do órgão, que repassa ao chefe do destacamento, para só aí chegar ao comando.

Isso, se não se perder no caminho." Procurado pela reportagem, o superintendente do Serviço Regional de Proteção ao Vôo, coronel Ricardo Nogueira, não se manifestou.

A vida Sasaki é um exemplo dos problemas enfrentados pelos controladores de vôo.

Ele começou a trabalhar em 1986, monitorando os vôos em Congonhas.

Após nove anos de estresse, ficou hipertenso e teve a uma trombose cerebral.

Afastado dos radares, passou a gerenciar os horários de vôos. "Tive de custear meu próprio tratamento", conta.

Embora a Aeronáutica exija dos controladores uma bateria de exames médicos anuais, ela não se responsabiliza por nenhuma das doenças detectadas em controladores civis.

Os militares, que contam com o atendimento médico da Aeronáutica, também são vítimas dos mesmos problemas. "Além de problemas de estômago, o trabalho me trouxe desequilíbrio emocional e dificuldades de relacionamento", confessa o suboficial Mário Celso Rodrigues.

O salário médio de um controlador é de R$ 1.400, contra os US$ 7 mil dos controladores americanos. "Ser controlador de vôo no Brasil é coisa de super-herói", resume Sasaki.