Weverson Silva da Fonseca, o Mineiro, decidiu gravar um vídeo, entregue na portaria do Jornal do Commercio sem identificação do autor, porque teme ser morto. "Tô dando essa reportagem, mas quero que o senhor leve aonde puder: direito humanos, corregedoria, porque eu preciso de seguro de vida", diz o preso em um trecho da gravação. "Se a gente (os 14 que estão indiciados no Cotel pela chacina na Barreto Campelo) for pro Aníbal Bruno ou pra Igarassu, vai ter pessoas que é conhecido de um, de outro e já mandaram recado pra gente", conta, falando sobre as ameaças que teria recebido.

Mineiro viu de perto os tumultos que acabaram causando a morte de 6 presos na Barreto Campelo, na magrugada da segunda-feira, 19 de março.

No domingo, 18, os detentos tinham encerrado uma greve de fome de sete dias, organizada para chamar a atenção da justiça e da Imprensa para o atraso na análise dos processos sobre progressão de regime e livramento condicional.

Na versão da polícia, a chacina foi um acerto de contas liderado por Anderson José de Melo contra detentos do pavilhão B e C, onde ele também estava preso.

Mineiro e Anderson estão temporariamente detidos no Cotel, junto com outros 12 companheiros, indiciados pela participação na chacina.

Mas todos se dizem inocentes.

As mortes, segundo os dois, teriam sido um revide de dezenas de detentos contra presos dos pavihlhões B e C, que não eram bem vistos pela população carcerária. "Quando terminou a paralisação no domingo, eles (o grupo dos seis que morreram) tavam tudo bêbado, drogado com Rupinol", diz Mineiro. "Desde de manhã que eles já vinham fazendo tumulto na cadeia.

E não concordaram (com o fim da greve).

Queriam bagunça.

Quando foi depois da totalidade (contagem dos presos), tentaram agredir Anderson", conta.

Segundo ele, todos os 14 que integram o grupo têm direito a progressão de regime ou livramento condicional.

Mineiro explica que deveria ter saído da penitenciária depois de cumprir dois anos e nove meses de pena.

E que já teria completado quatro anos, sem que sua situação fosse analisada pela justiça.

Ele cumpriu outros sete em Minas Gerais.

Caso semelhante acontece, segundo seu relato, com sua namorada, presa na colônia penal Bom Pastor.

De acordo com informações repassadas pela Justiça, metade da população carcerária da Barreto Campelo já tem tempo para progredir de regime.

A cadeia tem capacidade para 1.140 apenados, mas atualmente abriga 1.294.

Dos seis presos esfaqueados e carbonizados no dia 19 do mês passado, em uma das celas da unidade, quatro deles haviam requerido progressão de regime para o semi-aberto e um, livramento condicional.