Há apenas dez dias no cargo, o novo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, um ex-opositor ferrenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sinaliza que os dois principais projetos do governo para a região Nordeste - a transposição das águas do Rio São Francisco e a construção da ferrovia Transnordestina - serão modificados em sua gestão.

No caso da transposição, a idéia é rediscutir o projeto original e adotar um programa, já apelidado de "Água para Todos", para assegurar o abastecimento das inúmeras comunidades ribeirinhas que vivem ao longo do rio nos chamados "Estados doadores" do projeto, entre eles, Bahia e Minas Gerais.

Esta seria uma forma, diz o ministro, de diminuir a resistência desses Estados à obra, que, na oposição, ele sempre combateu. "Tenho visto, e eu mesmo já fui vítima disso, aquele lema do "não vi, não conheço, não sei, mas reprovo"." Quanto à ferrovia Transnordestina, Geddel quer incluir no projeto um novo ramal, ligando a região de Barreiras (BA), forte produtora de soja e algodão, aos portos da Bahia.

Nesta entrevista ao Valor, o ministro diz que seu ministério é uma Pasta nacional, mas deixa claro que a prioridade é o Nordeste e que nada, inclusive a transposição, será feito em prejuízo da Bahia, seu Estado natal. "Se eu tiver que levar adiante qualquer posição que comprovadamente prejudique ou atrase o desenvolvimento da Bahia, serei entrevistado não mais como ministro, mas como ex-ministro", assegura ele.

Na estratégia original do governo para a transposição, a idéia era acelerar as obras, com a ajuda do Exército, tão logo o Ibama concedesse a licença ambiental.

Na sexta-feira, o Ibama, depois de quase três anos de análise, decidiu autorizar a obra.

Apesar disso, Geddel quer conversar antes com o presidente. "Estou me preparando para levar a ele preocupações, alternativas e estratégias.

Caberá a ele, em última instância, dizer que rumo deveremos seguir", pondera o ministro.

Sobre o fato de ter mudado radicalmente sua opinião sobre Lula, Geddel, que é da cota do PMDB no governo, sustenta que ele e o presidente mudaram de 2002 para cá. "Não posso ficar amarrado permanentemente a posições que eventualmente defendi.

O projeto de convergência que interessa é o destino, não o início.

Lula tem dado demonstrações permanentes de que está olhando para o futuro e não é escravo do passado." Veja mais na sessão de entrevistas deste Blog.