Por Henrique Cortez Finalmente alguém do governo teve a coragem de reconhecer que a transposição do rio São Francisco não é e nunca foi para levar água a quem tem sede.
Por coragem ou descuido, pouco importa, o Sr.
Rômulo de Macedo Vieira, do Ministério da Integração Nacional, deixa claro que ao ser concebida para a segurança hídrica dos reservatórios, a transposição servirá ao maior usuário dos reservatórios e adutoras – a agricultura irrigada.
Ela garantirá os crescentes volumes de água exigidos pelo agronegócio exportador.
Esta é a razão pela qual o governo preferiu ignorar solenemente o Atlas do Nordeste, da Agência Nacional de Água, por projetar obras para abastecimento humano.
A opção do governo é a finalidade econômica.
Simples assim. É a primeira vez que um representante do governo e, por dever de ofício, defensor da transposição tem o caráter e a hombridade de deixar de lado os falsos argumentos e apresentar a verdade como ela é e como sempre foi exposta pelos movimentos sociais.
Aproveitamos a inesperada sinceridade para reafirmar que um projeto equivocado, como a transposição do rio São Francisco, atenderá os privilegiados de sempre e manterá as freqüentes imagens de rios completamente secos, de açudes exauridos e de ricas áreas irrigadas ao lado da mais impensável aridez, simplesmente porque não visa criar garantias de acesso à água.
Se for para levar água a quem já tem acesso não há necessidade de qualquer projeto, bastando aumentar a eficiência no gerenciamento e nos usos da açudagem disponível.
Para isto, não é necessário fazer nada muito complicado, muito menos um projeto como a transposição do rio São Francisco.
Pelo menos, no momento em que o IBAMA concede a L.I., a mentira do argumento "levar água a quem tem sede" ficou exposta.
Já é um começo.
PS: Henrique Cortez(henriquecortez@ecodebate.com.br) é coordenador do site Ecodebate