O escritor e jornalista carioca Zuenir Ventura está trabalhando em um novo livro.
Autor de sucessos editoriais como 1968, o Ano que Não Terminou, sobre os anos de chumbo, o escritor agora se volta para nova geração.
Nesta entrevista exclusiva ao Blog do Jamildo, ele fala sobre política, a volta de Collor, governo Lula e até ácido na noite carioca.
A conversa ocorreu na noite de sexta-feira, no hotel Atlantic Plaza.
Zuenir veio a Pernambuco a convite da Oi, para conhecer justamente projetos sociais com jovens.
Zuenir é um velho conhecido.
Nas três vezes em que cheguei como finalista no Prêmio de Jornalismo Embratel, cuja festa ocorre sempre no Rio de Janeiro, ele estava lá, testemunhando meu fracasso. "Estou te falando em primeira mão.
No Rio de Janeiro, só saiu uma nota sobre minha ida a uma rave, para pesquisar", ressalta, premiando os leitores atentos do Blog com uma conversa franca e agradável.
Veja os principais trechos Cada um por sí O que me levou a aceitar o desafio de escrever sobre os jovens foi a dificuldade de definir a juventude atual.
Eles não tem referência política ou social.
São voltados para si mesmo. É difícil definir essa geração.
Os meninos não querem saber de política.
Não protestam, como fazia a minha geração.
Sem julgamento Vamos tentar montar um perfil, sem dar respostas prontas.
Não vamos julgar ninguém.
Como vai ser o livro Não é ficção. É realidade.
São três personagens.
Um policial, um sociólogo e um cineasta tentando decifrar esse enigma que é o jovem de hoje.
O policial acaba infiltrando-se no mundo das festas de praia, das academias, inclusive com drogas sintéticas.
Já o socióloga, baseada em Maria Isabel Candido de Almeida, trabalha montando um perfil do comportamento da juventude.
O cineasta é o Marcos Prado, que vai expor tudo no final. É um projeto que estamos fazendo de forma associada.
Bem nascidos O que mais me intriga é que são jovens bem nascidos, com educação.
Eles são classe média.
Vão ser o nosso futuro, tem todas as facilidade, serão a nossa elite.
Mas só pensam em se divertir.
Internet A única preocupação parece ser com o bem-estar.
Individualistas, suas preocupações são a internet e a música eletrônica.
Não lêem; Não quero fazer um julgamento no livro, não é que a minha geração esteja certa.
Vamos tentar descubrir o que ocorreu, sem preconceito. É um desafio grande e não é fácil.
Colhendo informações em uma rave Sábado passado, eu passei a madrugada acompanhando uma rave, onde 25 mil jovens se divertiam.
Fiquei impressionado. É curioso.
Não tem violência, agressividade.
Vai dar até nome a um capítulo: A Primeira Rave a Gente Nunca Esquece.
Eles estão tão voltados para si mesmo que não olham para ninguém.
Estranho como não cansam também.
Eu achei que ia ser um saco, mas foi até divertido.
Chegava gente dizendo:" Parabéns, corôa.
Vamos dançar".
Aos 75 anos, com 1,81 metros, careca e feio, eu era um alvo fácil.
Desencanto Uma das minhas teorias é o desencanto com a política.
Não temos como não dizer que eles não tem razão.
A prática política que estamos servindo nas vitrines não é a melhor, com certeza.
Eles tem todos os recursos para fazer mobilização (internet), mas não há nada estratégico para esses jovens.
O que se oferece como participação política é interessante?
Não dá tesão mesmo, pelo que se vê, não é?
A volta de Collor Fiquei surpreso com as poucas reações. É a amnésia crônica que temos.
Parecia que estavam todos diante de um injustiçado.
Chegou a comparar-se a Vargas, mas o cara não deu um tiro no peito.
No Brasil, é assim, estamos querendo esquecer o passado.
Nas livrarias O livro vem sendo feito há um ano e deve ser entregue ao público no segundo semestre, pela editora espanhola Planeta.
Já estou acabando.
Apuro e escrevo. É a primeira vez que faço isto. É uma grande reportagem, com muitas histórias. 1968 revisitado Depois de ter escrito para a Planeta Minhas Estórias dos Outros, já entreguei e será lançado no próximo ano um espécie de 1968 revisitado.
Neste livro, falo sobre o momento político atual.
Vou tentar dar respostas.
Governo Lula Não houve jeito de fazer o homem dar alguma opinião publicável sobre o governo Lula.
Perguntei-lhe se ele concordava com Millôr Fernandes, outro carioca ilustre.
Numa entrevista recente, Millôr disse que achava que a vontade do PT era combater a burguesia, mas a vontade deles era ter uma fazendinha, um dinheirinho.
Zuenir ouviu a transcrição do trecho da reportagem e apenas deu uma grande gargalhada no final."Não quero adiantar.
Assim, o livro perde a graça".