Da Editoria de Economia do JC O atual ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, assumiu o posto, na última sexta-feira, prometendo transformar em realidade o sonho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de levar água ao Semi-Árido do Nordeste.

Ele estava se referindo a um dos projetos mais polêmicos do governo federal: o de transposição das águas do Rio São Francisco.

Geddel Vieira é do PMDB baiano e a Bahia foi um dos Estados que mais fizeram oposição ao início das obras da transposição. "Sei que não faltará aos baianos, pernambucanos, alagoanos, sergipanos e mineiros, que conhecem a opulência do Rio São Francisco, generosidade aos que sofrem com a seca", afirmou.

Com exceção de Pernambuco, os outros Estados citados pelo ministro fizeram oposição ao projeto.

Atualmente, o projeto está em sua etapa burocrática.

A perenização dos açudes do Nordeste Setentrional faz parte do projeto de transposição das águas do São Francisco que prevê a construção de 622 quilômetros, divididos em dois grandes canais, o Eixo Leste - que começa no Lago de Itaparica - e o Eixo Norte que fará a captação da água no município de Cabrobó.

A água será levada para vários municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Ainda na posse, Geddel disse estar disposto a enfrentar todos os embates para executar as obras da transposição.

Na semana passada, integrantes de vários movimentos sociais fizeram protestos contra o projeto, chegando a quebrar vidraças do prédio do Ministério da Integração Nacional, em Brasília.

O projeto tem um custo de cerca de R$ 4,5 bilhões e foi uma das promessas de campanha do presidente Lula.

O Ministério da Integração Nacional lançou, nos últimos 40 dias, três editais para a contratação dos serviços relacionados ao projeto de transposição com a finalidade de escolher empresas para fazerem os projetos executivos, a supervisão das obras e a execução das obras.

Somente o último, envolverá serviços estimados em R$ 3,3 bilhões.

O projeto de transposição também inclui um programa de revitalização do Rio São Francisco.

O ministro prometeu destinar R$ 1,3 bilhão às ações de revitalização que serão feitas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo federal em janeiro último. "Foi possível reunir no Projeto de Revitalização as diversas contribuições da sociedade.

Aliaram-se ações de saneamento com as de reflorestamento e reposição da mata ciliar, combate à erosão com a recuperação da navegabilidade, integrando um conjunto de medidas de proteção ao ecossistema do Velho Chico que estão prontas para serem implantadas", disse.

Ainda na posse, Vieira elogiou o trabalho desenvolvido pelos ex-ministros da integração Ciro Gomes e Pedro Brito com relação ao projeto de transposição.

Os dois são cearenses e se empenharam para divulgar o projeto em audiências públicas, reuniões com representantes da sociedade civil e também agilizaram, dentro do possível, o andamento do projeto.

Segundo Brito, o projeto poderá ser iniciado ainda este mês e para isso será preciso a aprovação da licença ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

As primeiras escavações serão feitas pelo Exército. "A transposição está num estágio avançado com relação às pendências de ordem legal e técnicas.

Não acredito que o projeto vá dar para trás, porque o presidente (Lula) diz que é prioridade dele", comentou o ex-presidente da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba, Sérgio Goes.

A agência é quem vai gerenciar, no âmbito estadual, as águas da transposição do Rio São Francisco. "O ritmo pode não ser o desejado, mas o projeto deve andar", disse.

Sudene e Chesf Geddel Vieira afirmou também que a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) "com toda a sua pujança, certamente poderá contribuir muito para o debate sobre o projeto".

A estatal deverá criar uma subsidiária para gerenciar o uso da água que vai passar pelos canais da transposição.

O novo ministro também informou que os empreendimentos que queiram ter incentivos das futuras Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) terão que demonstrar sustentabilidade ambiental e ter preferencialmente a participação dos trabalhadores nos seus resultados.