A convite do projeto Oi Futuro, fui ver em Boa Viagem na sexta-feira a pré-estréia do filme Pro Dia Nascer Feliz, do cineasta João Jardim.

Para quem não leu nada sobre o filme, ele narra o cotidiano de quatro escolas no País, sendo uma delas em Manari, aqui no interior de Pernambuco.

Fala da banalização da violência nas escolas e nossos problemas sociais. É um soco no estômago.

Você pode ter duas reações.

Ficar triste e abalado, pensando que este país está lascado, sem futuro.

Ou imagina que ainda é possível refazer algo, embora não seja fácil.

A cena final, com pequeninos merendando, depois de tanta selvageria, nos remete a isto.

O futuro já nasceu, mas pode estar sendo mal cuidado.

Numa das passagens, do forte documentário, uma garota que matou uma colega em pleno educandário onde estudava, não mostra o menor arrependimento pelo crime que cometeu. "Não dá nada matar.

Três anos passam rápido", diz.

Em uma boa contextualização, os professores explicam que a violência não entrou de graça nas escolas.

Ela faz parte da vida das crianças e jovens.

Os próprios garotos contam que sabem que vão morrer rápido.

Daí, nada melhor do que tirar onda, enquanto o dia D não chega.

A mensagem mais do que explicita de João Jardim é de que estamos colhendo o que plantamos.

O nó é que não dá para erradicar o que está plantado, gerando frutos podres.

Numa conversa anterior com o escritor Zuenir Ventura, por coincidência também tratando de jovens, ele admitiu que temos uma geração perdida.

Nem em São Paulo a situação é melhor.

Quando aparecem as escolas paulistas, vê-se crianças lendo jornal.

Fico feliz quando vejo pessoas lendo jornais, mostram que tiveram educação e querem participar da sociedade.

Mas que nada.

Mesmo com boa estrutura, nessas escolas de periferia da grande cidade, os professores reclamam que são agredidos e desrespeitados.

Coisa do tipo papeiro da Cinderela!

No meu tempo, se falasse ou fizesse besteira, ficava de joelho no milho e ia para a direção, tomar um sermão básico.

Vergonha inominável, pelo menos para quem tinha vergonha.

Como se não fosse uma bomba de efeito retardado, o fimle mostra garotos sendo passados de ano sem condições para tanto, em nome da progressão continuada. "Vamos passar esse infeliz", diz uma professora, para não dar nota vermelha e ter que se justificar pela reprovação do estudante.

Faz de conta total.

Outra coisa que me impressionou bastante: No filme, quem é CDF é mal visto, mesmo nas melhores escolas de São Paulo.

Só que, se a escola não exige, a vida vai exigir.

Pro Dia Nascer Feliz é, assim, um documentário fantástico, muito bem feito e oportuno.

No Recife, a apresentação acabou sendo marcada, por cima de tudo, pela morte de um garoto de 14 anos, cujo figado foi rompido a chutes, por outro colega, na escola em que estudava em Sirinhaém, na véspera da exibição.

Pelo que se vê na tela, nenhuma coincidência infeliz.

A violência invadiu a escola.

O nosso futuro está sendo mal cuidado.

Estamos plantando o que colhemos.

PS:Não há notícia da polícia de Sirinhahém sobre o paradeiro do jovem infrator.

PS: A pernambucana Valéria, a jovem estudante de Manari, é uma grata surpresa e fecha o filme com chave de ouro, com seus poemas.

Depois do filme, a escola foi reformada, pelo menos com pedra e cal.