Dílson Peixoto, EMTU e Cosa Nostra, um antigo e lucrativo triângulo amoroso.

Por Edilson Silva O final do ano de 2005 foi marcado por uma rebelião no Centro do Recife.

Estudantes de escolas públicas e privadas, universitários e secundaristas, jovens sem-escola das periferias, desempregados, camelôs, homens e mulheres, organizações populares, anônimos em geral ocuparam as ruas da cidade para protestar contra o aumento das tarifas de transporte.

Foram várias semanas de passeatas, enfrentamentos com a polícia, polêmicas nos jornais.

Centenas de feridos, "excessos" inadmissíveis da Polícia Militar, dezenas de presos.

Dezenas de ônibus depredados pela fúria incontrolável de uma população sem esperança e agredida em sua mínima dignidade.

Foi uma guerra diária, com audiências na OAB, no Palácio do Governo, solidariedade das ONGs, mutirões de advogados populares para libertar os presos, apoio maciço e solidariedade da população.

No dia mais tenso dos enfrentamentos, a Guarda Municipal da Prefeitura do Recife perfilou-se com o Exército e seus tanques, com o Batalhão de Operações no Sertão da PM, com os cavalos e cachorros da PM, com helicópteros e com o Batalhão de Choque da PM.

A Prefeitura queria reforçar o aparato desproporcional e covarde montado para "enfrentar" cerca de 400 jovens e populares, encurralados na rua do Hospício, entre as Avenidas Guararapes e Conde da Boa Vista, no Bairro da Boa Vista, no Recife.

Enquanto isso, a prefeitura do PT, de João Paulo, somava-se ao então governador Jarbas Vasconcelos, em notas na imprensa em defesa do aumento e condenando os "baderneiros".

O homem escalado pela prefeitura e pelo PT para tratar do "assunto indigesto" foi Dílson Peixoto, então secretário da Prefeitura e presidente estadual do PT.

Em meio a este quadro complexo, com batalhas campais no centro da cidade, o trânsito interrompido praticamente todas as tardes, com batalhas jurídicas nos Tribunais, pois o Ministério Público também contestava a majoração da tarifa, com reuniões do tal Conselho Metropolitano de Transportes, pressionado pela sociedade civil, o disciplinado Dílson Peixoto não teve dúvidas em ir para a imprensa afirmar que o reajuste das tarifas era ainda insuficiente para contemplar os "pobres" empresários do setor.

Mas essa não era a primeira vez que Dílson Peixoto faria o papel de representante das empresas de transporte de passageiros.

Foi assim também no processo de supressão do transporte alternativo, os chamados Kombeiros, ainda na primeira gestão petista na Prefeitura do Recife.

Naquela oportunidade, uma outra operação de guerra foi montada para expulsar milhares de pais de família dos "negócios" da Máfia dos Transportes, com o cínico argumento de que as empresas não tinham condições de renovar e de aumentar a frota e ao mesmo tempo baixar a tarifa com uma "concorrência"desleal.

A Prefeitura de João Paulo, com Dílson Peixoto no pára-choque, "passou por cima" dos Kombeiros, com negociação zero.

Não abriram a possibilidade de uma regulamentação que disciplinasse a atividade, de forma que o impacto social fosse controlado e os usuários fossem protegidos da absoluta falta de concorrência no setor.

A Prefeitura abriu mão da fiscalização por um longo período, proporcionando assim, conscientemente, a desorganização completa do segmento alternativo, para em seguida trabalhar com parte da população a seu favor na supressão de toda e qualquer atividade alternativa.

Ou seja, atividade sem concorrência.

Capitalismo sem risco.

Cartel.

Passados alguns anos, o povo vai às ruas reclamar das péssimas condições dos ônibus, dos intervalos gigantes entre uma viagem e outra, e de tarifas exorbitantes para uma população extremamente pobre.

E leva pau da polícia.

Portanto, não nos causa estranhamento que agora, com o PT fazendo parte do loteamento do governo de Eduardo Campos, Dílson Peixoto seja colocado exatamente na EMTU, como seu presidente.

Menos estranhamento ainda é vê-lo enfrentando a opinião pública, com menos de três meses de gestão na EMTU, para aumentar ainda mais a margem de lucro dos empresários, através da desobrigação da contratação de seguro contra acidentes, situação que foi fartamente denunciada na imprensa.

Dílson é voraz e quase insano quando o assunto são os negócios da Cosa Nostra.

Dizem os entendidos nesses assuntos de máfia que a confiança da famiglia em seus homens só é conquistada depois de muito trabalho sujo realizado.

Faz sentido.

Mas às vezes a voracidade deste homem é tanta que é preciso conte-lo, como aconteceu agora no caso da desobrigação do seguro, em que seus superiores deram uma marcha-ré, para ver uma melhor forma de dar mais esse golpe no povão.

Mas, Eduardo Campos e Humberto Costa, seus superiores hierárquicos, sabem o que fazem.

Para Eduardo é interessante colocar a "batata quente" nas mãos do PT, afinal de contas, a Secretaria das Cidades, pasta habitada por Humberto, faz fronteira com áreas sensíveis dos movimentos sociais e populares, e quando a coisa apertar, entram em cena a UNE, UBES, entidades estudantis sob forte controle do PT e do PC do B, assim como a CUT e outros, também burocraticamente controlados por estes partidos, para tentar esvaziar qualquer contestação.

Já Humberto Costa conhece bem a disciplina, lealdade e disposição de Dílson Peixoto para com a famiglia, e sabe que ele topa qualquer enfrentamento, não tem medo de se "queimar", pois, tudo indica que mesmo com todo o apoio financeiro que deve receber pelos serviços prestados, não consegue passar de vereador do Recife quando o assunto é voto.

Portanto, podemos contar com novos e calorosos capítulos deste triângulo amoroso.

O povão e a sociedade civil organizada, certamente saberão reagir.

PS: Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao governo do Estado em 2006 e escreve todas as sextas feiras para o Blog do Jamildo / Jornal do Commercio.