Por Luciano Siqueira Às vésperas das convenções partidárias em 1994, o então candidato a governador Miguel Arraes solicitou que permanecêssemos em sua sala, no escritório da Jaqueira, durante o encontro que teria naquele instante com a direção estadual do PT (um grupo grande de dirigentes, liderado pelo presidente João Paulo, deputado estadual, hoje prefeito do Recife).

O assunto era o apoio petista à candidatura de Arraes e a sugestão de que o seu vice pudesse ser indicado pelo PT.

A esse modesto militante do PCdoB cabia apenas ouvir, partícipe de certa forma intrusa daquela conversa.

Arraes já tinha um vice na cabeça – que poucos dias adiante seria confirmado: o então deputado estadual Jorge Gomes.

Porém preferiu responder aos petistas com uma espécie de metáfora ancorada no seu exílio na Argélia. - Certa vez perguntei a um general argelino, herói da libertação, qual teria sido o principal problema que encontrara na guerra – contava Arraes.

Ele me disse que o principal problema eram os novos apoios.

O ex-governador falava olhando para cada um de nós ali presente, como que a se certificar de nossa surpresa.

Afinal, ninguém imaginava que novos apoiadores se constituíssem em problema… - Fiquei surpreso e pedi que me explicasse - prosseguiu.

O general disse que quando o exército de libertação recebia novos contingentes tinha que alojar, alimentar, vestir, armar e treinar mais gente; e nem sempre os recém-chegados sabiam lutar do jeito que o nosso exercito lutava. - Vejam vocês – continuava Arraes – que não só o PT, mas outros partidos também desejam indicar o meu vice, e a decisão não depende de mim, depende dos partidos.

Estão vendo como não é fácil? Óbvio que o experiente e hábil Arraes estava escapando da pressão do PT pela indicação do seu vice.

Mas, também parece certo, ele falava de algo procedente, ao citar o general argelino.Comparemos a situação com o estado atual do governo do presidente Lula. Às vésperas, tudo indica, de consumar a reforma ministerial, são tantos os apoios, muito mais amplos do que os anteriores, quando do início do primeiro mandato, que se não é necessário “alimentar, vestir, armar e treinar” os novos aliados, é preciso contentar a todos.

E é aí onde mora o perigo.

O governo precisa ser amplo e plural – mas não pode se desfigurar.

Por exemplo: antes, o governo de coalizão era concebido (documento do Diretório Nacional do PT assinala) apoiado num núcleo de esquerda constituído pelo PT mais o PCdoB e o PSB.

Agora, com a adesão quase compacta do PMDB, vozes importantes dentro do PT, como o deputado Cândido Vacarezza, defendem que o núcleo principal do governo seja a aliança privilegiada entre o PT e o PMDB “neolulista”.

Nada impede que o PT mude de opinião.

Mas é evidente que aí estaria uma tendência mais ao centro – do núcleo dirigente petista.

Do governo, esperamos que não.

PS: Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e escreve todas as quartas-feiras neste Blog.