Estamos dentro da revolução Por Jodeval Duarte O diário de Saad Eskander (www.bl.uk/iraqdiary02.html) é um dos símbolos da revolução em que estamos mergulhados.
Todos os dias, esse bibliotecário relata as dores de um povo sujeito a uma grande tragédia existencial.
Dono de seu destino, era oprimido pela sua elite dirigente – na perspectiva do Ocidente.
Violentado em sua soberania, padece em uma guerra civil mesclada pela invasão de algumas das nações mais poderosas do mundo – a começar pelos EUA e Grã-Bretanha.
O que isso significa hoje é contado pela ótica de Saad, que trabalha no epicentro da guerra, uma biblioteca em Bagdá.
O relato diário da guerra é a revolução que vivemos.
Ele é feito através de um blog, o mais fantástico invento de nossos tempos.
Ainda não percebemos o tamanho dessa revolução, mas todos somos personagens e agentes dela.
Qualquer do povo – assim como o Saad – podemos levar ao mundo nosso diário.
Até quem ainda não foi inserido no mundo da informática por não poder comprar um computador, para esse excluído aí estão cibercafés possibilitando o acesso ao mundo através de caminhos cada vez mais rápidos.
O blog fascina até profissionais de imprensa para quem os meios de comunicação se esgotavam no jornal, no rádio ou na TV, dentro de rígidos limites: era preciso que o comunicador fosse aprovado em uma universidade e contratado por uma empresa.
Para se comunicar via blog não é preciso ser jornalista nem ter vínculo com empresa.
Se consegue associar essas duas exigências e se tornar blogueiro assalariado, então estamos próximos do paraíso.
Cito dois casos mais conhecidos entre nós: os excelentes profissionais Jamildo Melo, do Jornal do Commercio, e Ricardo Noblat, livre-atirador.
Jamildo oficializou-se como blogueiro do JC, o que é uma das faces dessa revolução: os grandes jornais abrem espaços para blogs – alguns passam de 30 – e criam espaços editoriais ilimitados e atraentes.
No caso do JC, essa inovação se faz com um dos melhores profissionais da casa, mas grandes jornais já têm seções de blogueiros sem vínculos empregatícios, abrindo janelas e possibilidades.
Noblat é emblemático da revolução bloguista: muito jovem, passou pelo JC como um dos grandes nomes do jornalismo pernambucano, daqui se fez para o Sul, conquistou importantes espaços como editor da Veja, citado sempre que se falava dos mais importantes jornalistas brasileiros.
Deu um passo adiante aceitando a editoria-geral de jornal em Brasília, onde fez uma pequena revolução gráfica.
Aconteceu de Noblat tropeçar com o poder – o governo de Brasília – por querer fazer um jornalismo independente, e terminou deixando a empresa em um episódio rumoroso.
Caminhou rapidamente na direção de novos desafios e encontrou um que o coloca na vanguarda: seu blog é requisitado como um produto de mercado, passa a ser um jornalista independente, vivendo de sua capacidade de produzir notícias numa perspectiva mais avançada.
O mais revolucionário ainda é que qualquer do povo, anônimo, de qualquer parte do Brasil e do mundo onde haja um provedor da internet, pode ter seu diário disponível para bilhões de pessoas.
Menos, é verdade, quando sabemos as limitações lingüística.
Mas o blog lá estará disponível, falando de lugares, eventos, pessoas.
Isso é uma revolução.
Que vai além do que parecia insuperável no século 20 e abre perspectivas insondáveis para os próximos anos – pelo menos se as nações permitirem a sobrevivência da humanidade nos próximos 100 anos, mudando as relações de poder, os modelos econômicos e os projetos de crescimento.
Enquanto esse milagre não acontece e o mundo se faz mais quente e desequilibrado, as transformações se operam com esse instrumento fantástico que é o blog.
E nem precisa repetir: todos nós somos personagens desta maravilhosa – e de final insondável – trama.
Jodeval Duarte é jornalista.
PS: Normalmente, os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião deste Blog, mas abrimos uma exceção neste caso mais do que particular.