Líder do governo Lula na Câmara presidiu PFL e deu apoio a FHC Da Folha de São Paulo Um ex-presidente nacional do PFL, que quase virou vice de Fernando Henrique Cardoso e foi co-autor da emenda que possibilitou sua reeleição é, desde a última quinta-feira, o líder do governo Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara.

Aos 58 anos, José Múcio Monteiro (PTB-PE) é um dos mais radicais casos recentes de conversão política no Congresso -mesmo levando em conta a guinada peemedebista.

Começou há 30 anos na Arena, partido que sustentava o regime militar, passou pelo PDS e depois ficou 15 anos no PFL.

No início dos anos 90, chegou a presidir interinamente a sigla por alguns meses, quando apoiou a candidatura de FHC.

Foi cotado para vice na chapa tucana depois que Guilherme Palmeira renunciou.

No governo tucano, foi fiel ao presidente em tempo integral.

Além de signatário da emenda da reeleição, foi escolhido relator da proposta de FHC de mudanças na lei trabalhista.

Despertou o ódio das centrais sindicais e dos petistas. “Até hoje pago um preço por isso”, diz.

Desde o início do governo Lula, ele mudou de lado.

Após rápida passagem pelo PSDB, abrigou-se no PTB e entrou para a tropa de choque do petista. “Como dizia Chaplin, a vida é um assunto local.

Entrei no PTB por conta de questões do Estado”, diz Múcio. “Mas já estou do lado de Lula há muito tempo.

Há quatro anos.” Para alguém com currículo partidário tão vasto, o recente inchaço de partidos da base do governo soa como algo corriqueiro. “É um aumento natural, que se dá sempre que começa a legislatura. É previsível.” Plantador de cana-de-açúcar, Múcio sempre foi defensor dos usineiros nordestinos no Congresso, advogando benefícios do governo.

Mas rejeita o rótulo, normalmente associado de forma pejorativa à elite nordestina, para si. “Não sou sócio de nenhuma empresa produtora de açúcar e álcool.

Sou um produtor de cana e seringueiro.

Sou precursor da borracha em Pernambuco.” Segundo sua declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral, ele controla 90% da empresa Goicana Agro Industrial, uma fazenda tocada pelas filhas.

O valor declarado do negócio é de R$ 76 mil.

Também tem participação em uma empresa de criação de camarões, a Maricultura Tinoco, avaliada em R$ 24.080,75.

Na última campanha, recebeu de usineiros doações de R$ 360 mil.

Agora, com o interesse dos EUA pelo álcool brasileiro, sente-se vingado. “O mundo todo hoje está ávido pela questão do etanol. É um momento importantíssimo para que a gente invista nisso.” Antigo crítico da quantidade de medidas provisórias editadas pelo governo, Múcio agora diz que não é hora de mexer no instrumento -fundamental para o Executivo.

Também não quer mais ouvir falar de reforma trabalhista. “A prioridade é a reforma política”, diz.

Decidido a permanecer no PTB, Múcio trava uma guerra de poder com o presidente da legenda, Roberto Jefferson, que foi para a oposição desde que denunciou o mensalão.