Por Sérgio Montenegro Filho Quatro meses se passaram desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou pela primeira vez em promover a reforma no seu ministério.

Foi logo após a sua vitória nas eleições de outubro.

De lá até aqui, não foram poucas as mudanças de postura do presidente ao tratar o assunto.

Dependendo do dia - e do humor -, Lula ora informava não ter mais pressa em fazer os ajustes na equipe, ora dizia estar concluindo as mudanças para, então, anunciá-las.

O grande problema é que, enquanto o petista cozinha em banho-maria as negociações com os partidos aliados sobre a reforma, o País vai pagando a conta e sofrendo as conseqüências.

Com a demora em anunciar as mudanças, Lula tem deixado vários ministros em suspense, alguns de malas prontas, sem saber bem se permanecem ou não na equipe.

O resultado é a paralisação de vários projetos importantes que estavam em andamento em algumas pastas.

Vale lembrar que vários ministros da equipe original montada por Lula durante o primeiro governo deixaram os cargos em abril do ano passado para disputar mandatos eletivos.

Foram substituídos - temporariamente, segundo garantiram porta-vozes do Planalto à época - pelos seus secretários-executivos.

Boa parte destes, técnicos especializados nas áreas para as quais foram nomeados, exatamente para cobrir eventuais "deslizes" dos titulares, escolhidos por critérios meramente políticos.

Mas o presidente não acusa o golpe da paralisação do governo.

Sempre que tem chance, assegura que os auxiliares técnicos têm desempenhado bem suas funções e, por isso, diz não ver problemas em adiar as mudanças.

Quando provocado, costuma ir além, afirmando que quem manda no governo é ele e que não aceitará pressões de partidos, do Legislativo ou mesmo da sociedade para agilizar a reforma ministerial.

Como argumento para justificar a suposta tranqüilidade, Lula tem citado os investimentos feitos nos dois primeiros meses deste ano, que somaram R$ 1,5 bilhão, 25% a mais do que foi investido no mesmo período de 2006 e ainda maior que nos primeiros biênios dos anos anteriores.

Nos bastidores, porém, ele age ao avesso: conversa quase que diariamente com representantes de legendas aliadas na tentativa de convencê-los a ceder espaços para outros neolulistas, sobretudo o PMDB e o PP.

Estes dois, juntamente com o PT - partido do próprio presidente - são, na verdade, os pivôs da demora na composição do novo ministério.

Reconhecidamente ávidos por cargos governamentais, peemedebistas e pepistas brigam por mais espaço contra petistas, que nos últimos anos também se afeiçoaram às benesses do poder e não querem perder terreno.

Tonto com o assédio partidário e temeroso de perder a frágil governabilidade no Congresso Nacional, Lula tem tentado montar uma aliança mais ampla - que batizou de "coalizão" -, mas esbarra exatamente na resistência da sua base original, sobretudo o PT, em abrir espaços para os novos recrutas.

E nessa queda de braço política só há um perdedor: o povo.

PS: SÉRGIO MONTENEGRO FILHO é repórter especial da Editoria de Política do JC e assina a coluna Pólis, no JC Online