Por Edilson Silva*Escrevo este artigo em pleno 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Antes de chegar ao editor de textos, percorri obrigatoriamente alguns portais digitais para ler alguns jornais e meus e-mails.

Neste percurso, uma poluição de propagandas de empresas em "homenagem" a elas.Assim como tenta transformar tudo em mercadoria, da fé em Deus à violência, passando pelo Dia das Mães, Dia do Trabalhador e o que vier, o Dia Internacional da Mulher também não escapa do multiprocessador do mercado, que busca transformar tudo em mero comércio.No entanto, o Dia Internacional da Mulher é uma data muito cara para a luta feminista e da esquerda internacional.

Foi num 8 de março, em 1857, que 129 operárias de Nova Iorque foram trancafiadas e queimadas vivas na tecelagem onde trabalhavam e se refugiavam de violenta repressão policial.

Lutavam pela redução da jornada diária de trabalho de 14 para 10 horas e igualdade de tratamento com os operários homens.Em 1910, na II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague, Dinamarca, em homenagem às operárias nova-iorquinas assassinadas, o 8 de março foi instituído como Dia Internacional da Mulher, um dia dedicado à reflexão sobre a causa feminista, um dia de luta unificada pelos seus direitos em nível internacional.Apesar do apelo inequívoco do dia, o mercado trata esta importante data como "Dia da Mulher".

Sim, assim mesmo, sem o "Internacional" e no singular fora do contexto, para facilitar o diálogo com a mulher enquanto indivíduo, e não enquanto gênero com demandas coletivas e sem fronteiras.

Afinal, apelar para o individualismo e para a competição é uma necessidade do capitalismo.Mas, de volta aos portais digitais, entre batons, mil testes, dicas e cartões de crédito, uma promoção me chamou mais a atenção.

Não pela qualidade visual, mas pela ousadia e incoerência.

Tratava-se da propaganda de uma instituição financeira, essas de agiotagem oficial, que eu não vou dizer o nome, obviamente.

Darei apenas uma dica: começa com "Bra" e termina com "esco".A publicidade da referida casa de agiotagem oferecia uma promoção especial.

Segundo a propaganda, as mulheres não deveriam se contentar apenas com um dia, mas "com a vida toda".

Para tanto, deveriam fazer um seguro de vida, em condições especiais é claro, afinal de contas, é o "Dia da Mulher".Diante do "genocídio" do gênero feminino que está acontecendo em Pernambuco, pensei, uma peça publicitária sugerir que "não se contente apenas com um dia", mas "com a vida toda", e propondo na seqüência um seguro de vida, soa quase como uma ameaça, um aviso macabro.Em 2006 foram mais de 300 assassinatos de mulheres no Estado.

Em 2007 já estamos em 59 assassinatos.

Com estes números, temos que admitir que a propaganda atua sobre uma demanda bastante consistente. É muita ousadia.E onde está a incoerência?

Em 2006, o OGU - Orçamento Geral da União, destinou para a segurança pública apenas 0,44% do seu total.

Em alguns segmentos que têm vinculação direta ou indireta com a área de segurança pública, como educação, cultura, habitação, saúde, desporto e lazer, o investimento total em 2006 ficou em 2,37%.Por outro lado, os gastos com a agiotagem, ou seja, com amortização e juros da dívida "pública", o gasto foi da ordem de 36,7%.

Mais de 10 vezes superior a tudo aquilo que foi elencado no parágrafo anterior.

Participando desse "bolinho" de 36,7%, que equivale a R$ 275 bilhões, está o conjunturalmente feminista "Bra"…"esco".

Seu lucro líquido em 2006 alcançou nada menos que R$ 6.649 bilhões, algo próximo de 0,89% de todo o Orçamento Geral da União, ou seja, o dobro do que o governo federal investiu em segurança pública no mesmo período.Todo esse lucro não é oriundo apenas das operações envolvendo títulos da dívida, é claro, mas segundo as publicações especializadas, grande parte vem dos chamados ganhos de tesouraria, ou seja, dessas operações com títulos públicos.A incoerência, neste caso, é uma questão de ponto de vista.

Para os banqueiros deve fazer sentido drenar os recursos da segurança pública para vender seguro de vida, assim como o fazem com a saúde e a previdência públicas, para vender planos de saúde e previdência privada, respectivamente.PS.

Ah!

Quase me esqueço.

A referida promoção fazia restrições a casos de câncer de mama e ginecológico.*Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao governo do Estado em 2006 e escreve todas as sextas feiras para o Blog de Jamildo