No meio de várias matérias louvando as mulheres, na edição do Jornal do Commercio de hoje, gostaria de destacar para vocês uma em especial.
Trata-de de um texto do colega de economia Sílvio Menezes, mais conhecido como Bolinho (não mer perguntem a razão, nem ele nunca explicou).
Junta boa informação, irreverência e muita propriedade.
Homenageia sem ser piegas.
PS: É incrível, mas ainda tem homem que diz que mulher não sabe fazer curva junto.
Por Sílvio MenezesDa Editoria de Veículo A preconceituosa e machista expressão "mulher ao volante, perigo constante”, usada durante anos para rotular o sexo feminino como mau motorista, vem caindo em desuso.
Estudiosos em trânsito revelam uma realidade bem diferente da vendida pelos homens.
Dados do Departamento de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE) apontam que dos cem maiores motoristas infratores do Estado, 83 são homens.
Um deles carrega no prontuário 135 multas.
Já a recordista no ranking da barbeiragem tem um pouco mais da metade: 77.
O número não é muito exemplar, mas os especialistas classificam elas como mais atenciosas ao volante.
Assim, nada é mais justo que trazer a discussão hoje, quando grupos e associações de direitos humanos celebram o Dia Internacional da Mulher.
A data é símbolo de luta.
Será um dia repleto de manifestações, pedidos de igualdade e de reflexão sobre a situação da mulher.
O mercado de trabalho e a violência vão dominar as pautas.
Pelo fato de Pernambuco ser recordista em assassinatos de mulheres, as atenções vão se voltar para frear a matança.
As demais questões passam a ser secundárias. “O foco é justo”, reconhecem.
Mas, carregar nas costas o ingrato título de barbeira continua a ser uma situação incômoda para muitas motoristas. “Os homens não assumem seus erros e culpam as mulheres.
Dirijo desde meus 14 anos e sou melhor que muitos homens na direção”, gaba-se a nutricionista Tathiane Albuquerque Nilo, 27.
A habilidade ao volante não se reflete no conhecimento de mecânica. “Aí é outro departamento”, desconversa.
Atualmente, 270.983 mulheres possuem carteira de habilitação no Estado, contra pouco mais de 936 mil homens.
No ano passado, foram computadas 440 mil infrações no Grande Recife, Zona da Mata, Agreste e Sertão.
O comportamento nas ruas dos dois sexos é um pouco diferente.
Também varia pela faixa etária.
A transgressão mais cometida por ambos os sexos é o avanço de sinal.
Em compensação, as mulheres, de todas as idades, são flagradas falando mais ao celular.
Já, andar em alta velocidade é a outra característica marcante dos homens.
A diretora de Operações do Detran-PE, Simíramis Queiroz, acompanha as principais mudanças no comportamento do trânsito.
Ela diz que a história é semelhante em todas as regiões: eles costumam ser mais arrojados e as mulheres, mais precavidas.
A comerciante Alexssandra Macedo, 36, é uma das motoristas exemplares.
Aprendeu a pilotar aos 12 e sabe que dirigir nos dias de hoje exige muito mais atenção e disciplina. “É mais fácil para nós porque está associado à nossa natureza”, sentencia.
Ela enche o peito para dizer que nunca se envolveu em acidentes e que o machismo aparece de maneira mais clara no momento em que os homens não lhes dão passagem.
A empresária Normalinda Azevedo, 32, se considera uma motorista de primeira.
Acredita que o estigma ainda persegue as mulheres.
Tirou a primeira habilitação há 13 anos, conta que é respeitada nas ruas e não passa despercebida por nenhum motorista.
Mas não é pela habilidade, e sim por causa do seu carro. É dona de uma Toyota Hilux, ano 2006, vermelha com tom puxando para o rosa.
O tamanho da picape ajuda a impor respeito nas ruas.
O comandante do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRV), coronel Eden Vespaziano, é outro a dar o braço a torcer para as mulheres.
Na opinião do oficial, a experiência mostra que as mulheres são cautelosas e respeitam as leis de trânsito. “É bastante preocupada com a segurança dela e os demais ocupantes e isso reflete positivamente no trânsito”, atesta.
Cooperativas de táxi e até empresas de ônibus, universos considerados masculinos, já empregam mulheres como motorista.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Setrans-PE) contabiliza 16 mulheres trabalhando como motorista de coletivo na RMR.
Gente como Maria da Graça de Lima, 33.
Filha e irmã de caminhoneiro, começou a dirigir carros de grande porte na juventude.
E logo acompanhou o pai.
Após um bom tempo cortando estradas do País trocou de serviço.
Hoje dirige ônibus e tem apoio dos colegas e passageiros.
Quem já sabe disso são as companhias de seguro, que oferecem até planos e descontos especiais para mulheres.
NÃO ABRE ESPAÇO Apesar dos elogios rasgados às mulheres por autoridades em trânsito, os especialistas dizem que as elas não costumam dar passagem.
A constatação não é de nenhum homem inconformado. É de Cristina Fontan, gerente de Psicomédica do Detran-PE, setor responsável por todos os exames médicos e psicológicos realizados no órgão.˜ Na avaliação dela, o fato pode estar relacionado à situação da mulher. “Elas estão acostumadas a ser cortejadas.
Não aceitam com a facilidade a idéia de dar a passagem ao homem” explica.