Os sindicatos de servidores federais reagiram com indignação à proposta revelada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, de regulamentar a greve da categoria.
Para eles, a intenção do governo federal, de limitar greves de quem trabalha com serviços essenciais, fere diretamente o direito de greve e representa uma incoerência na trajetória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ganhou destaque participando de movimentos grevistas. “Isso é rasgar a história dos que chegaram ao governo.
Repudiamos a proposta do ministro Paulo Bernardo”, afirmou o coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais de Saúde e Previdência Social (Sindsprev), Luiz Eustáquio. “A luta grevista começou na ditadura militar, quando a lei não permitia greves.
Inclusive, Lula foi preso por isso.
Não tínhamos sindicatos, mas associações, e mesmo os servidores federais poderíamos perder o emprego, mas nos arriscamos e não deixamos de fazer greve”, emendou Eustáquio.
Ele argumentou saber o peso dos serviços essenciais. “Estamos lidando com pessoas, às vezes com a vida delas.
Mas só fazemos greve quando chegamos ao extremo, esgotadas as negociações”, explicou.
Ontem, o ministro do Planejamento anunciou que negociará com as entidades sindicais impor limites às paralisações dos servidores federais que atuam com serviços essenciais – além de saúde, seria o caso, por exemplo, dos controladores de vôo. “A greve só surge por falta de opções.
Mas até o que é negociado o governo não cumpre”, protesta o coordenador geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais de Pernambuco (Sindsep), José Carlos de Oliveira. “A proposta que Paulo Bernardo esboçou foi uma proibição direta de greve, não uma regulamentação.” Os representantes dos trabalhadores aproveitaram para bombardear novamente a meta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de o governo federal conceder reajustes anuais de apenas 1,5% aos seus funcionários. “A folha tem um crescimento vegetativo, com servidores que ganham bonificação por tempo de trabalho, gente se aposentando, contratações, de 1,5%.
O PAC prevê infra-estrutura e geração de empregos, mas não tem meta para a criação de vagas, investimentos em saúde. É só para as empresas. É o famoso déficit (nominal) zero, de Delfim Netto”, criticou José Carlos, fazendo menção à idéia de o governo custear seus gastos com recursos provenientes de arrecadação tributária, inclusive o pagamento de juros.