Da Folha Online A saída de Afonso Bevilaqua da diretoria do Banco Central não irá alterar a condução da política monetária, na avaliação feita ontem pelo ministro Guido Mantega (Fazenda). "A política monetária não é feita por um diretor.

A política monetária é determinada pelo Conselho [Monetário Nacional, o CMN] e o Banco Central cumpre a política monetária.

Nós temos um regime de metas de inflação, o CMN estabelece qual é a meta e o BC tem de perseguir", disse ele, para quem o BC cumpre essa função de forma adequada.

O CMN, formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central, é o órgão responsável por estabelecer todos os anos a meta de inflação.

Para este ano, a meta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

O BC precisa perseguir a meta e para isso usa instrumentos da política monetária, como a taxa de juros.

A saída de Bevilaqua foi anunciada anteontem.

Ele alegou questões pessoais para deixar o cargo que ocupava desde julho de 2003.

Mas a saída do diretor é marcada por longo processo de desgaste e pressão política sobre o BC.

Desde que assumiu o cargo, Bevilaqua chegou a pedir demissão duas vezes em meio ao tiroteio de petistas, governistas e da oposição contra o BC.

Em todas, foi convencido a ficar no cargo.

Sua vaga foi assumida por tempo indeterminado pelo diretor Estudos Especiais, Mario Mesquita, que passa a acumular as funções.

Bevilaqua era um dos diretores do BC mais conservadores, portanto, um dos mais criticados pela condução da política monetária, inclusive por membros do próprio governo.

Para Mantega, o que ocorreu foi uma troca de rotina.

Ele lembrou que Bevilaqua permaneceu no cargo por mais tempo que os demais diretores.

O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) tem a mesma avaliação e aproveitou para reafirmar a autonomia do BC. "O governo nunca administrou politicamente os juros nem com o partido.

Essa questão o presidente reiterou várias vezes que o BC tem autonomia do aspecto técnico.

Não ficamos lá no dia-a-dia nos metendo na gestão da política [monetária]", lembrou o ministro.

Bernardo admitiu que a taxa básica de juros ainda é elevada -hoje a Selic está em 13% ao ano-, mas afirmou que a atual política tem conseguido manter a estabilidade dos preços e que "todos vão ficar contentes enquanto isso acontecer".