Do Jornal da Globo Próxima ao rio São Francisco, a agricultura baiana tem tido grande sucesso.

Mas ninguém pensou em pescar numa plantação de maracujá ou usar uma canoa para colher cocos.

O excesso de chuvas levou o São Francisco ao seu maior nível nos últimos 27 anos, e os agricultores que sempre pediram água, hoje estão perdendo a safra por culpa da enchente – e acusam a Chesf, que opera as barragens do rio, de tornar as coisas ainda piores.

Só de canoa é possível colher o que sobrou da plantação de maracujá.

Já do plantio de banana, não deu para salvar nada.

A agricultora Maria José da Paixão e a família viram o investimento de um ano inteiro debaixo dágua. “Os maracujás já morreram todos, a manga tá morrendo, o coco, a banana, tá tudo aí dentro d´agua.

E está difícil porque a gente está devendo nas lojas”, conta.

Walter Alves teve um prejuízo ainda maior: toda a produção de manga que ele pretendia colher este ano está alagada. “Esse ano está perdido, não tem o que colher", mostra.

A última vez que o rio avançou assim foi há quase 30 anos.

Mas não houve tantos prejuízos como agora: desta vez, a água chegou tão depressa que não houve tempo de tirar quase nada de dentro das roças.

Da plantação que agora está alagada há 20 dias, o agricultor Francisco de Assis tirava dez mil cocos por mês.

Agora, precisa nadar entre os coqueiros para colher o que ainda pode ser aproveitado. “Uns 80, 90% daqui já está perdido”.

Maílton Rodrigues trocou a enxada pela rede de pesca. “O maracujá está aí dentro dentro d´agua, o jeito é pegar peixe aqui agora”, diz o agricultor.

Os produtores reclamam que a Chesf demorou muito a soltar a água da chuva, que ficou represada na barragem de Sobradinho.

Por causa disso, agora está sendo obrigada a liberar seis mil metros cúbicos por segundo – quase seis vezes mais que o volume liberado normalmente, causando enchentes em áreas que não eram alagadas há mais de 20 anos.

Quem está com prejuízo por causa da cheia quer ser indenizado. “A Chesf, sabendo que teve chuva em Minas Gerais, poderia ter aberto as comportas há mais tempo, evitando mais esse prejuízo, esse transtorno à fruticultura.

A safra de manga está completamente perdida”, cobra Ivan Pinto, da Associação dos Produtores e Exportadores da região.

A Chesf diz que a vazão está abaixo dos oito mil metros cúbicos, que é o limite estabelecido pela companhia para não prejudicar a população. “A gente sabe que passamos muitos anos sem vazões relevantes.

E aí a população começa a se aproximar do leito do rio, com algumas atividades que até podem ser desenvolvidas, mas de maneira temporária”, defendeu o diretor de operações da Chesf, Mozart Bandeira Arnoud. “A Chesf, enquanto uma concessionária de energia elétrica, não entende que é de sua responsabilidade ressarcir.

A menos que ela tivesse feito uma operação inadequada, o que não é o caso”.

Os agricultores não se conformam e querem ser indenizados pelos prejuízos. “Tem que pagar, porque mesmo que a água volte, como é que a gente vai ter dinheiro para começar a vida novamente?”, pergunta a agricultora Maria José da Paixão.