Por Edílson Silva* Encerrado o carnaval inicia-se a quaresma católica, e com ela, há 48 anos, a Campanha da Fraternidade da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Este ano o tema é "Fraternidade e Amazônia". É a CNBB, após um longo jejum, que representou uma trégua com o governo federal, assumindo um tema que gera consideráveis atritos com o governo Lula.

A última campanha que trouxe um tema com forte apelo político e capacidade de mobilização aconteceu em 1999, "Fraternidade e os desempregados", ainda durante a gestão FHC.

A Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano, sem demérito das campanhas dos últimos anos, pode e precisa ser abraçada pelo conjunto da sociedade.

Os temas aquecimento global, fontes energéticas alternativas, padrões sustentáveis de consumo, denúncia do latifúndio e do papel do Estado como seu cúmplice, defesa das populações nativas da região, estão embutidos na campanha, e nos remetem a uma reflexão que desemboca, inevitavelmente, na necessidade da construção urgente de alternativas que se diferenciem daquelas apresentadas até aqui pelas autoridades, a exemplo do governo federal.

Mas, não é só o povo de Deus que está de olho na Amazônia, esta região com seus grandes problemas e imensuráveis potenciais.

O Diabo também está, e seu representante mais atrevido e dinâmico no planeta Terra, após a morte de Adolf Hitler e Pinochet, nos seus sombrios tempos, desembarca no Brasil durante a quaresma, mais precisamente no dia 08 de março próximo.

Estamos falando de George W.

Bush, presidente dos Estados Unidos.

A visita de George Diabo Bush ao Brasil tem dois objetivos centrais e completamente desprovidos de mínima nobreza.

Primeiro, tentar isolar politicamente Hugo Chaves e seus aliados no continente, como Evo Morales, e segundo, avançar no controle do mercado de combustíveis alternativos aos fósseis, no caso o Etanol.

A tentativa de isolar Hugo Chaves e seu socialismo do século 21 obedece à lógica de manutenção do imperialismo norte-americano, que busca manter a região com a maioria dos seus países sem independência política e econômica.

Em sua ofensiva "diplomática", Bush passará por Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México, coincidentemente os países mais "comportados" da região, deixando de fora, por razões óbvias, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e até Argentina.

A atual investida, além de buscar avançar para uma correlação de forças política na região que facilite a retomada do controle das reservas de petróleo e gás no subcontinente, localizadas principalmente na Venezuela e na Bolívia, pretende avançar também no controle político da região da Floresta Amazônica, com toda a sua biodiversidade e potencial econômico futuro.

Como o convencimento político às vezes não é suficiente, bases de mísseis norte-americanas já estão devidamente posicionadas em países vizinhos do entorno amazônico, como a Colômbia, assim como os norte-americanos já dispõem do controle da tecnologia do SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia.

Nunca é demais lembrar dos mapas comercializados nos Estados Unidos, fartamente denunciados, em que a floresta amazônica aparece como território internacional.

Com relação ao Etanol, a idéia de Diabo Bush é torná-lo uma commoditie, internacionalmente negociada nas bolsas de valores, a exemplo do petróleo.

Quer com isso diminuir a dependência das reservas de petróleo que estão tornando-se escassas e de difícil acesso nos moldes antigos (Iraque, Irã e Venezuela são exemplos) e ao mesmo tempo quer continuar participando dos negócios na área de energia, agora no promissor segmento de bioenergéticos, lucrando bilhões de dólares, como vem fazendo sua família há décadas com o petróleo.

Seu irmão mais novo, Jeb Bush, ex-governador da Flórida, um diabinho, está acompanhando e dinamizando todas as negociações sobre Etanol, não por acaso.

Entre o povo de Deus e o Diabo, nesta questão da Floresta Amazônica, encontra-se Lula, pois a estratégia norte-americana em relação a esta floresta depende de descontrole estatal na região, depende da sua desnacionalização.

Tudo indica que Lula não está bem com o povo de Deus, e conseqüentemente está bem com o outro lado, visto que o texto da CNBB que lança a campanha faz duras críticas ao atual governo, denunciando-o como omisso frente à grilagem de terras e à corrupção que alimentam o desmatamento, o latifúndio, a impunidade de siderúrgicas e a matança de lideranças que levantam suas vozes em defesa da floresta e seus povos, como a Irmã Dorothy Stang.

A CNBB tem razão, mesmo com pontuais contradições em sua campanha, como a participação da CVRD - Companhia Vale do Rio Doce no seu financiamento, que arranha a imagem da campanha, mas não tira o seu alcance estratégico.

O governo Lula é um foco de adaptação à ilegalidade e à injustiça dos poderosos, e na questão ambiental existem fartos exemplos.

Foi assim com os transgênicos, quando legalizou a sua comercialização, alegando que já estava sendo comercializado ilegalmente há anos.

Foi assim com a Lei de Florestas, que na prática privatiza a Amazônia, alegando incapacidade de fiscalização e em nome de manter a "floresta em pé", mesmo que com replantio, sabe-se lá do quê, sem levar em consideração toda a biodiversidade e o ecossistema da floresta.

Está sendo assim com a Transposição das Águas do Rio São Francisco, em que as comunidades da bacia hidrográfica atingidas disseram não à transposição, e o governo, contrariando a Lei, passou por cima das comunidades e avança com o projeto.

Está sendo assim também com o PAC, em que a Legislação Ambiental brasileira está sendo ainda mais flexibilizada para "destravar" o crescimento, atendendo aos interesses de setores empresariais.

Portanto, por seu histórico recente, é bem capaz de Lula continuar optando pelo lado do Belzebu nesta questão da Amazônia e do meio ambiente.

De nossa parte, viva a Campanha da Fraternidade: Fraternidade e Amazônia!

Xô Satanás! *Presidente do PSOL/PE, foi candidato ao governo do Estado em 2006 e escreve todas às sextas feiras para o Blog do Jamildo.