Por Sérgio Montenegro FilhoRepórter Especial de Política do Jornal do Commercio e do JC Online A cada dia que passa, fica mais difícil saber, de fato, por qual partido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nutre maior simpatia.
Se ainda é pelo "seu" PT ou se é pelo PMDB.
Ou ainda, pelo PR de Inocêncio Oliveira, ou pelo PP de Maluf.
Isso para não ir além.
E não vale vir com obviedades do tipo: claro que é pelo PT, porque ele é fundador e líder maior do partido, etc e coisa e tal.
Hoje isso já não passa de uma afirmativa-clichê, que perde o sentido se levarmos em conta a atenção e a desenvoltura política com que o príncipe do Planalto vem tratando alguns aliados.
Inclusive alguns que, por muitos anos, lhe fizeram uma duríssima - e até injusta - oposição.Não é preciso um grande esforço de memória para lembrar que qualquer governante, logo ao assumir, tem como prioridade montar e anunciar o seu ministério.
Lula, porém, não só reassumiu o mandato com a equipe antiga - e pior, desfalcada de vários nomes, que deixaram os cargos para disputar as eleições - como demonstrou uma invejável disposição de, ignorando as fragilidades que lhe foram impostas pela crise política do primeiro governo, não dar a menor satisfação ao eleitorado que lhe concedeu uma nova chance de fazer as coisas do jeito certo.No momento, por exemplo, ele não tem como prioridade azeitar os ministérios com nomes competentes para que funcionem bem.
Decidiu, isto sim, lançar mão de algumas pastas como moeda política para negociar a tão sonhada coalizão partidária.
Aquela que ele, inocentemente, ao que parece, acredita que vai garantir sustentação política à sua administração.
Tem gente um pouco mais lúcida cochichando no ouvido presidencial que esse acordo, se fechado, não chega às eleições de 2008.
Mas ele insiste em não ouvir.Pois bem.
Completados dois meses do segundo governo, ainda não houve a reforma ministerial.
E não por falta de oportunidades, mas porque o presidente - petista, segundo dizem - resolveu atrelar as mudanças à vontade de outros partidos.
Por um lado, tenta agradar o PP de Paulo Maluf, que disputa o Ministério das Cidades com o PT, que dizem ser o seu partido.
Por outro, aguarda o desfecho da peleja interna no PMDB que, no dia 11 de março, fará uma convenção nacionalpara tentar chegar a um acordo sobre se apóia ou não o governo e quais as alas da legenda que estarão mais próximas da administração.
Próximas e de boca aberta, é bom frisar.Somente a partir do que for decidido pelo PMDB - um partido que mais parece um monte de gatos dentro de um saco de estopa - é que o Brasil, então, terá a chance de conhecer alguns dos novos ministros.
Entre eles, inclusive, poderá estar uma figura carimbadíssima, personagem de várias polêmicas e crises políticas: o deputado federal baiano Geddel Vieira Lima.
Pois é, o homem vem brigando para ficar com a importante pasta da Integração Nacional.
Exatamente aquela que vai cuidar de assuntos polêmicos como a transposição do Rio São Francisco.
Enquanto isso, no PP, Maluf cobra de Lula, para um apadrinhado seu, o Ministério das Cidades, que estava sendo escalado para a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, uma das presidenciáveis do PT em 2010.Falta, ainda, acarinhar o novo - mas nem tanto - Partido da República, que congrega nas suas hostes gente do antigo PL e do Prona, e tem como líder o vice-presidente José Alencar.
Em princípio, a legenda não fez muitas exigências, mas, nos bastidores, anda pleiteando umas "coisinhas" junto ao Planalto.Enfim, entra governo, sai governo, o caldeirão de acordos e conchavos permanece fervendo.
E a mistura lá dentro continua absolutamente indigesta.
Pelo menos para o povão.