Por Paulo Sérgio Scarpa Redator da coluna Repórter JC O Carnaval do município de Bezerros, no Agreste, é famoso por seus papangus e lembra o que o que foi o Carnaval de Olinda na decada de 80, isto é, há cerca de 20 anos.

O povo dança livremente pelas ruas, que não estão ainda superlotadas, reina a tranquilidade entre foliões e entre quem gosta de assistir aos desfiles e a cidade consegue manter uma infra-estrutura mínima que dá chances ao comércio e aos moradores que permanecem em amplas sacadas.

Mas o Carnaval de Bezerros já apresenta alguns vícios que caracterizam a folia em Olinda a partir do final da década de 80: grupos de jovens transformam as garagens em estúdio de reaggae com som altíssimo, o que atrapalha a passagem das orquestras de frevo e o canto das troças e blocos.

E, por incrível que isto possa parecer, os grupos de papangus estão desaparecendo aos poucos, como percebeu o casal Eduardo Ferreira, jornalista, e Giselda Sátiro, artista plástica, que há anos frequentam as festas em Bezerro. "A cidade tinha mais papangus, havia centenas de grupos fantasiados que desfilavam pelas ruas", lembra Eduardo Ferreirea.

O prefeito Marconi Borba, do PT, parece que também percebeu possibilidade de extinção dos papangus na cidade, o principal atrativo do Carnaval.

Este ano, decidiu inovar: decorou a cidade com enormes máscaras de papangus feitas em papel maché (mistura de água, papel picado e cola que depois é pintada a mão por artistas locais), colocou orquestras de frevo estrategicamente instaladas nas esquinas e distribuiu tamboretes com cerca de um metros quadrado de área onde permaneceram jovens vestidos de papangus, como a dizer aos visitantes, olhem, aqui estãos ele.

Se a estratégia dará certo, ninguém sabe ainda.

Mas quem foi a Bezerros, neste domingo, pôde ver fantasias luxuosas, grupos de papangus com adereços e enfeites e muita crítica social e fantasias bem abusivas pelo centro da cidade.

Como uma imensa gorda, pelada e levando uma enorme cobra nas mãos, uma fantasia de pano e muito enchimento que chamou a atenção e recebeu inúmeros pedidos de fotografia.

Até um inacabado 14 Bis apareceu pelas ruas, uma homenagem a Santos Dumont.

E um esfarrapado carregando um enorme cartaz no qual se podia ler: Terra da miséria, Estado zero, Desequilíbrio social.

E muitas drags queens que chegaram do Recife e Caruaru.

Até o casario de Bezerros parece estar se adequando às festas da cidade: casas antigas e novas estão ganhando enormes sacadas voltadas para a praça central da cidade, verdadeiros camarotes VIPs com decoração e direito de esguichar do alto água nos suados foliões.

Mas o que mais chamou a atenção do turista foi a realtiva tranquilidade na cidade.

Os ritmos se misturavam e não se viu ontem galeras, nem trombadinhas.

Policiais atentos, poucos, é verdade, tomavam conta do ambiente, e só tiveram trabalho mesmo com alguns que não souberam beber.

Já que a guerra entre os papangus acabou, a guerra do merchandsing continua forte em Bezerros.

A cidade foi literalmente tomada pela cervejaria Schin, que patrocinou a festa, colocando nos bares, restaurantes e quiosques e tendas todos os seus produtos.

Mas quem queria outra marca não foi privado do gostinho: bares e restaurantes avisavam os fregueses que estavam vendendo, sim, as demais marcas, mas somente no interior dos estabelecimentos, para não quebrar o contrato entre prefeitura e cervejaria.

A Pitu, porém, mostrou que, com inteligência e criatividade, entrou com muito jeitinho na folia exibindo a sua marca no palco da folia: um dos blocos que percorreu a cidade carregava dois imensos balões com a marca Pitu para todos lerem e se lembrarem.