Da Redação Uol No Carnaval de Recife é imprescindível o espírito de incorporação às massas - ninguém paga para acompanhar a folia dos blocos, ao som de muito frevo, maracatu, caboclinhos, manguebeat, entre outros ritmos.

Só que para entender de fato a maneira alegre e louca de pular os festejos de Momo dos pernambucanos, faz-se necessário, além da animação, uma segunda premissa: compreender as expressões populares locais.

Gírias como “Cafuçú”, “Fera”, “Tampa de Crush”, “Liso” e “Cavalo do Cão” povoam o vocabulário pernambucano e trazem indagações e perplexidade aos turistas mais desavisados.

Em entrevista para o UOL Carnaval, os feirantes Tiago e Gilmar da Silva e o vendedor ambulante João Carlos Vicente ensinam seus significados, num “Dicionário Básico do Fera”, para que ninguém faça feio na hora da interação com os habitantes locais.

Segundo Tiago e Gilmar, o “fera” é “um cara inteligente, intelectual.

Durante o Carnaval, também beija muito na boca e só faz namorar”.

Para João Vicente, a expressão quer dizer “gente boa e, ao mesmo tempo, bom nos estudos”. “Tampa de Crush” [antigo refrigerante com gosto de laranjada] significa “o cara que só quer ser o melhor de todos, o garanhão”, diz Tiago.

Os feirantes do mercado de São José, no centro do Recife, ensinam que “um Cafuçú pode ser quem presta atenção no serviço [leia-se: quem é bom de cama].

Também é um cara safado.

Entre os gays, é homem”.

Já o vendedor da cidade Alta de Olinda, completa dizendo que “é boy que pega bicha [homossexual]”.

No domingo de Carnaval às 9h, o divertido “Bloco I Love Cafuçú” sai em Olinda, do Alto da Sé, ao som de brega, com um público alternativo.

Por uma razão menos engraçada, Tiago explica outra gíria que significa sentir medo: “torar o aço”. “Já mataram gente na minha frente, no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana do Recife).

Torei o aço nessa hora”, diz.

O termo designa passar por situações de perigo, o que pode acontecer se o turista, por exemplo, acompanhar o bloco “Homem da Meia Noite”, em Olinda, na madrugada do sábado para o domingo, onde não são raras as cenas de violência.

Os rapazes também dão dicas de “segurança”.

Se o dinheiro acabar no meio da festa, saiba que você está “liso” [sem grana].

No desespero, muitos acabam apelando para substâncias proibidas como o “loló” (mistura de éter e clorofórmio), vendidos pelas “almas sebosas”, que, segundo os feirantes, são “pessoas com maldade na mente”.

Se você passar por tudo isso, e continuar inteiro, é um “Cavalo do Cão”, aquele que ultrapassa todos os obstáculos e ninguém segura na hora da diversão.