“A ciência e a arte de atender a todos e não satisfazer plenamente a ninguém”.

Este poderia ser o título de um bom tratado acerca da escolha do primeiro escalão de um governo que se sustenta numa frente formada por amplo e diferenciado arco de forças políticas.

O tratado, salvo engano, não existe – e se existisse bem que poderia repousar sobre a mesa de cabeceira do presidente Lula nos dias que correm.

Pois enquanto nós simples mortais já estamos envoltos, uns mais, outros menos, pelos sons e sensações do carnaval, o presidente da República mergulha na primeira rodada de conversações com os partidos que o apóiam – movimento que tudo indica ultrapassará os dias de Momo e se estenderá até a virada de fevereiro para março.

Até lá, ele tem de considerar com atenção e abertura os mais diversos pleitos, desfazer fantasias e chegar a uma solução que se assemelhe a uma orquestra afinada.

Ou a um time bem entrosado.

Pois este será o ministério do PAC.

Haverá de ser composto com um olho na capacidade técnica e empreendedora dos escolhidos e o outro no respaldo político de cada um.

O diabo é que tal como numa orquestra, ou como num time de futebol, todos os postos são importantes, mas alguns são mais importantes do que os demais – pela força real, mediada pelo tamanho do orçamento a gerir, e pela visibilidade política.

Nenhum partido pleiteia ministérios de menor importância.

Exemplo do PDT recém-chegado à base governista (e participante do bloco parlamentar na Câmara junto com o PCdoB e o PSB, mais PAN, PMN e PHS), que apresentou a Lula as opções “mais sintonizadas com a simbologia do partido”, no dizer do seu presidente, Carlos Lupi: Minas e Energia, Transportes, Trabalho e Previdência.

Na reunião do seu diretório nacional, em Salvador, no último fim de semana, o PT já havia relacionado os ministérios dos quais não pretende abrir mão: todos os considerados estratégicos, incluindo alguns que hoje estão ocupados por gente de outros partidos, como o das Cidades.

Já o PMDB saiu do encontro com o presidente, anteontem, anunciando que terá pelo menos quatro dos principais ministérios.

Ontem, foi o PP que disse ter garantias do mesmo presidente Lula de que permanecerá no comando do ministério das Cidades.

E PSB, PCdoB e PTB, que estão, respectivamente, no da Ciência e Tecnologia, Esporte e Turismo, não dão mostras de que desejam sair e ainda almejam ampliar seus espaços.

Assim, há apetite de sobra para ministério de menos.

Como nenhum pleito deve ser visto como ilegítimo, significa enfrentar muitas quebras-de-braço ao mesmo tempo.

Exige muque e habilidade – do próprio presidente.

Nota do Blog do JC: Pisamos na bola com o nosso articulista Luciano Siquiera (PC do B).

Por desencontro nosso, não localizamos a tempo de publicar logo cedo o artigo que ele tão gentilmente nos envia para ser publicado todas as quartas-feiras.

Nossas desculpas ao articulista e, principalmente, aos nossos leitores pelo imperdoável esquecimento.