A intenção deste editorial seria fazer um alerta, pedindo reforço de policiamento nas ruas, desde agora, durante as prévias, até as horas finais do Carnaval.

Segundo observadores que estiveram em Boa Viagem, durante o anunciado desfile do Balança Rolha, quase não se viam policiais nas ruas do bairro, nem sequer na orla marítima, onde se deu a concentração maior em torno de um carro de som com a presença de cantores, músicos e também muitos políticos.

E essa omissão propiciou um verdadeiro festival de violência, com um homem baleado e várias pessoas feridas.

A cantora baiana Ivete Sangalo, contratada especialmente para abrilhantar o evento, que deveria ser apenas festivo, pedia repetidamente calma aos contendores mais próximos, surpresa com a violência reinante.

Sabe-se, agora, que a confusão provocou a queda de dois oficiais da PM: o tenente coronel Edílson Monteiro, responsável maior pelo policiamento naquele bairro e adjacências (do Pina até a Imbiribeira), foi transferido para o comando do policiamento no Derby, onde quase não se brinca Carnaval, e o sub-diretor de Operações, tenente-coronel Aristóteles Pedrosa, também foi deslocado para outra função.

Poucos acreditam, porém, que o problema geral, de desordens nas festas carnavalescas, vá depender desse tipo de providência.

No mesmo dia em que a notícia das remoções foi anunciada, o assessor de imprensa da Secretaria de Defesa Social garantiu que o cálculo prévio das pessoas que estariam concentradas em Boa Viagem (cerca de 200 mil) estava correto. "O problema é que faltou efetivo.

Teve o desfile das Virgens em Olinda, também", disse à reportagem.

O que acontecerá, então, com os eventos que ainda vão acontecer, antes e durante o Carnaval?

Somente o Galo da Madrugada espera atrair aos bairros de São José e Santo Antônio, no Centro do Recife, mais de 1 milhão de pessoas, enquanto ainda falta acontecer o segundo desfile das Virgens de Olinda ("as verdadeiras", segundo alguns patrocinadores).

E dezenas de blocos, troças, clubes, maracatus, ursos, caboclinhos, escolas de samba e por aí vai vão desfilar pelas ruas das duas cidades.

No entanto, isso sempre aconteceu, sem o registro de tumultos organizados por galeras de desordeiros, dispostos a tumultuar o ambiente.

Noticiou-se ontem que uma greve de guardas especiais temporários, responsáveis pela segurança externa das unidades prisionais de Pernambuco, obrigaria o comando da PM a enviar policias aos presídios para cobrir a lacuna.

E isso comprometeria o já defasado policiamento ostensivo do Recife e de Olinda.

Por sorte, prevaleceu o bom senso, e os agentes darão uma trégua na paralisação.

Mas isso pode não ser suficiente para conter a violência, por causa da falta de senso dos que organizam a tabela de jogos do Campeonato Pernambucano de Futebol.

Eles programaram para o domingo (11) a realização do chamado "clássico das multidões", na Ilha do Retiro, como se no Recife não houvesse semana pré-carnavalesca.

Ainda bem que o tal jogo está esvaziado, com a conquista antecipada do turno por um dos contendores.

A polícia não sabe como garantir a integridade dos que vão aos estádios.

Arruaças já aconteceram no último jogo do Sport com o Náutico, nos Aflitos.

Alguns pretendem atribuir os conflitos, durante a apresentação do Balança Rolha, à existência de um cordão de isolamento.

Mas esta não parece ser uma explicação plausível.

A violência, dentro dos blocos ou no futebol, é apenas a extensão da criminalidade endêmica que tomou conta de Pernambuco.

O novo governo não conseguiu, até agora, modificar – para mais ou para menos – o quadro negativo deixado pelo seu antecessor.